Desde que soube que uma pista de skate seria construída para a 32.ª Bienal de São Paulo, Guilherme Gaspar Vieira, de 16 anos, começou a pesquisar na internet sobre as pistas esculturais e fosforescentes que a sul-coreana Koo Jeong A já realizou em outros países. “Achei bem criativo ela misturar esporte e obra artística”, diz o paulistano que estava, entretanto, um pouco frustrado nesta quarta-feira, 7, no Parque do Ibirapuera.
No primeiro dia da 32.ª Bienal para o público, Guilherme não pôde experimentar Arrogation, versão em branco e circular dos trabalhos da artista desenhada por ela especialmente para a mostra brasileira, pois estava sem capacete. “Voltarei no sábado”, diz. “Como a pista é muito grande, torna-se mais fácil, dá para descer e subir com calma”, avalia o skatista, que também aproveitou o feriado de 7 de setembro para entrar no Pavilhão Ciccillo Matarazzo e ver as outras obras da edição do evento, intitulada Incerteza Viva e em cartaz até 11 de dezembro. “Mostra bastante a cultura brasileira, os indígenas”, comenta.
Já Glauco Adriel, de 13 anos, entrou na Bienal com seu pai para “caçar Pokémon”, o jogo para celulares, mas resolveu, afinal, “ver a obra” – a Oficina de Imaginação Política, do artista Amilcar Packer, abrigada no segundo pavimento do edifício – e “o resto” (da exposição). Glauco deitou-se em um dos colchonetes do espaço para ler um dos textos do projeto, impresso no teto. “Achei bem interessante porque fala da luta de algumas pessoas com elas próprias, com a mente”, descreve.
A Oficina proposta por Packer é “lugar de convívio” e, ao mesmo tempo, de discussão com uma programação de debates e diversos escritos estampados no local, como a sequência que diz: “Houve Copa; Houve Golpe; Houveram Olimpíadas; Há Censura”. “As pessoas podem descansar e refletir”, afirma Rosana de Albuquerque da Silva, de 49 anos, de Itapecerica da Serra. “É uma exposição diferente, sobre o cotidiano”, opina Rosana, acompanhada do marido, Darci Rodrigues da Silva, de 69 anos. Os “coqueiros” que ela viu na entrada da 32.ª edição – na verdade, as esculturas de Frans Krajcberg criadas com restos de árvores recolhidas de queimadas e raízes e cipós encontrados no mangue da Bahia, onde o artista, de 95 anos, vive, foram suas obras preferidas.
“Bienal da sustentabilidade”, define outro visitante que, assim como o casal Cleber Valvassori, de 32 anos, e Daiane Fernandes, de 30, estava na fila para ouvir Espelho de Som, instrumento desenvolvido pelo argentino Eduardo Navarro para a mostra. O aparelho, que remete à corneta de gramofone agigantada, “conecta acusticamente” uma palmeira do Ibirapuera com a exposição dentro do prédio. “Gostei de pensar as coisas em outro tempo”, diz Cleber, pela primeira vez em uma mostra de arte contemporânea, ele conta. Para o paulistano, Incerteza Viva é uma Bienal “crítica ao consumismo”, conclui. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.