Estadão

Interesses nacionais se sobrepõem aos globais

A guerra na Ucrânia e a recente reaproximação dos países ocidentais com governos ditatoriais mostram que, ao serem pressionados, as nações consideram seus interesses econômicos frente aos acontecimentos mundiais. A avaliação é de Justin Dargin, especialista em energia para o Oriente Médio do Carnegie Endowment for International Peace, com sede em Washington, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

<b>A guerra na Ucrânia trouxe um renascimento do poder das petroditaduras?</b>

Não é que os petro-Estados com governos autoritários estejam renascendo, por si só. Os países ocidentais decidiram que seus interesses estatais seculares terão prioridade sobre quaisquer preocupações neste momento. Este não é um fenômeno novo. Além disso, após os fracassos no Iraque e no Afeganistão, muitos governos ocidentais sentem que é melhor incorporar uma visão realista para lidar com os governos como eles são, e talvez sutilmente empurrá-los para ações melhores, do que tentar impor uma mudança em grande escala. A guerra na Ucrânia preparou o cenário para que essa visão realista viesse mais uma vez à tona.

<b>Qual a posição dos grandes produtores de petróleo do Oriente Médio em meio à guerra na Ucrânia?</b>

Em geral, os maiores produtores de petróleo do Oriente Médio se uniram à Rússia por interesse próprio. Precisam da cooperação de Moscou para que haja alguma estabilidade de preços no mercado internacional. Essa visão é reforçada pelo fato de que outros países, particularmente a Arábia Saudita, sentem que o Ocidente não tem o direito de ditar como eles devem conduzir seus negócios e com quem cooperam no cenário internacional. Mas no momento em que o engajamento russo deixar de ser benéfico, haverá menos ímpeto entre esses produtores para continuar trabalhando coletivamente com a Rússia.

<b>Como o sr. avalia a imposição de um teto ao preço do petróleo russo?</b>

Deve-se lembrar que a proposta de limite de preço foi formulada para permitir que o petróleo russo continue a abastecer o mercado global a um preço que limita a capacidade da Rússia de financiar sua guerra. Isto porque quando o embargo europeu ao petróleo russo entrar em vigor, amanhã, os países ocidentais procurarão uma estrutura para evitar um choque global de preços que prejudicaria uma economia mundial já frágil e colocaria uma pressão crescente sobre as taxas de inflação.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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