Pelo menos 13 Estados tiveram alta no número de internações por covid-19 ou suspeita da doença em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e enfermarias na comparação com o fim do ano passado. O aumento das hospitalizações ocorre após as festas de fim de ano e em meio ao avanço das contaminações pela variante Ômicron, mais transmissível.
Especialistas vêm alertando para a necessidade de planejar a assistência hospitalar diante da explosão de casos no Brasil. Outros países, como os Estados Unidos, já têm hospitais sobrecarregados por surtos de covid-19 relacionados à Ômicron. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro minimizou os efeitos da variante e disse que a Ômicron é "bem-vinda".
Houve aumento do número absoluto de internações tanto em leitos de UTI quanto em enfermarias em Estados das cinco regiões do País, conforme levantamento do <b>Estadão</b> com as secretarias de Saúde.
O total de hospitalizações agora não se compara ao verificado durante o pico da covid no 1.º semestre de 2021, graças à vacinação, mas pressiona serviços públicos e privados. Secretários abrem leitos para dar conta da demanda e avaliam cancelar cirurgias eletivas.
Em São Paulo, a prefeitura da capital anunciou ontem a reserva de 1.100 leitos exclusivos para tratamento da covid-19. A partir de segunda-feira, postos de saúde terão o horário de funcionamento ampliado e algumas unidades, inclusive, passam a ser 24 horas. Também serão montadas 23 tendas para acolher a população, além de já ter sido autorizada a contratação de mais médicos e equipes de enfermagem.
No Paraná, eram 175 pacientes em UTI com suspeita ou confirmação de covid-19 em 31 de dezembro. Doze dias depois, o número saltou para 249 – alta de 42%. O aumento foi ainda maior nas enfermarias do Estado, de 82%.
No Espírito Santo, dobrou o número de pacientes em enfermaria e UTI, na comparação com dezembro. Houve abertura de novos leitos nos últimos 30 dias e mais vagas devem ser abertas. "Já desenhamos um cenário, que desejamos que não ocorra, de cancelar cirurgias eletivas", diz Nésio Fernandes, secretário de Saúde. Segundo ele, em relação às ondas anteriores da doença, há agora uma diferença maior entre os casos detectados e as hospitalizações, mas o volume de infecções preocupa.
Outros Estados que tiveram alta de hospitalizações pela covid ou síndrome respiratória são: Amazonas, Tocantins, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Paraíba, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
No Rio, as solicitações de leitos à central de regulação estadual, que estavam na média de 14 por dia, em dezembro, passaram para 51, em média, em janeiro. Em São Paulo, a Secretaria Estadual de Saúde vê aumento de 30% nas novas internações na última semana epidemiológica. A pasta disse ter desacelerado o redirecionamento de leitos de covid. E, se necessário, vai ampliar a assistência.
<b>Não vacinados</b>
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse ontem que pessoas não vacinadas representam a maioria das internações. Em carta a Queiroga, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) afirmou que a alta de casos "volta a impor desafios aos sistemas de saúde". O Conass lembra que um terço da população não está vacinada com duas doses, o que deixa o Brasil "vulnerável a uma grande onda de casos, que também poderá acarretar pressão hospitalar".
"Se o sistema hospitalar entrar em colapso, tanto na rede privada, quanto na rede pública, óbitos evitáveis poderão ocorrer pela não garantia de acesso à internação", diz o conselho. Os secretários pedem ao ministério autorização imediata de funcionamento, "nas condições adotadas ao longo do ano de 2021", de toda a rede hospitalar contra a covid-19.
Em Mato Grosso do Sul, o secretário de Saúde, Geraldo Resende, diz que leitos foram desativados pelo ministério e há "número exageradamente grande de casos" de covid entre pessoas que voltaram de viagem. "É assustador. Unidades vão sofrer impacto de internação, mesmo que quadros não sejam tão graves." Para dar conta da demanda, o Estado deve reabrir até o fim de janeiro 40 leitos de UTIs e 45 leitos clínicos.
Em nota, o ministério informou que a conversão de cerca de 6,5 mil leitos de UTI covid-19 em leitos de UTI convencionais foi feita após debate com Estados e municípios.
<b>Alta começou em dezembro após meses de queda</b>
O aumento de hospitalizações pela covid-19 verificado agora ocorre após uma temporada de redução nas internações – e coincide com o avanço da Ômicron pelo País. Em São Paulo, o número de pacientes internados em UTIs estava em queda desde junho. A tendência se reverteu a partir da última semana de 2021.
No Espírito Santo, o número de leitos de UTI ocupados caiu a partir de novembro, mas voltou a subir no fim de dezembro – e mantém tendência de alta. No Rio, desde novembro, o número de pacientes na fila de espera por um leito não passava de 10. No último dia 12, o número chegou a 95.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>