Na quinta, 17, Laila Garin acordou com aquela sensação. “Tinha a impressão de que havia passado a noite toda conversando. Aí me dei conta de que havia sonhado com o (Luís Carlos) Miele. A noite toda conversando com ele.” À tarde, Laila encontrou-se com Andréia Horta no mítico Beco das Garrafas, em Copacabana. A reportagem ia fotografar as duas intérpretes de Elis no território por excelência onde ela reinou. Laila, naquela noite, ia fazer um show. Ela, Laila, cantando Elis. “Contei como eu também, não era uma coisa frequente, mas sonhei com Elis durante o processo. Foi muito intenso”, conta Andréia.
As duas tricotaram, riram muito – as fotos não mentem – cantaram. “Fiquei com medo de esquecer a letra na passagem de som e a Andréia cantou As Curvas da Estrada de Santos comigo.” Andréia, claro, viu Laila no palco, em Elis – A Musical. Laila ainda não viu Elis, o filme, que estreia dia 24. “Vou ver na pré-estreia carioca, no dia 22”, promete. Não são íntimas, mas possuem amigos comuns, que frequentam.
Aprenderam a se respeitar, admirar. Laila ganhou um monte de prêmios – todos os prêmios do ano – por suas Elis. Andréia foi melhor atriz, ganhou o Kikito no Festival de Gramado, em agosto. “Nem acreditei. O filme passou no primeiro dia. O primeiro filme da competição, e já teve crítico dizendo que seria golpe do júri, se não ganhasse. A gente não faz as coisas pelo prêmio, mas pensa bem. Elis faz parte do imaginário do povo brasileiro. Todo mundo tem uma Elis na cabeça, e aí você vai lá e ousa fazer a sua Elis. Fica pensando – Será que fiz certo? O prêmio, nesse sentido, é um abraço, um afago”, reflete Andréia.
“Estamos falando de cinema. A Andréia tá lá na tela. E eu que fazia no palco, no teatro? Todo dia de espetáculo tinha esse retorno. Esse abraço, como ela diz”, agora é Laila falando. É curioso como cada uma chegou ao papel. Elis sempre fez parte da vida de Laila Garin. “Ela não era minha cantora preferida. Gostava de Elis como gostava de (Maria) Bethânia, de Gal (Costa). Mas a Elis sempre esteve mais próxima de mim por causa de minha mãe. Ela adorava ouvir Elis. Cantava junto.
Minha mãe era intensa, visceral. Encarnava esse modelo na própria vida. Como a Pimentinha, era estourada. Brigava com meu pai por qualquer coisa, e eu sempre colocando panos quentes. Quando comecei a pesquisar para o musical, aí sim descobri a extraordinária intérprete que é Elis. Sua técnica. Ninguém separa as palavras como ela. É tudo. A respiração, a extensão vocal. Elis era obcecada pela técnica. Queria ser perfeita, mas se permitia ser apaixonada, emocional. É um paradoxo, essa liberdade. No limite, acho que foi o que sobrou nesses anos todos sendo Elis, cantando como Elis. A coragem. De ser eu mesma, de cantar como Laila.”
Andréia percorreu um longo caminho até Elis. “Comecei a conversar sobre o filme com o Hugo (o diretor Hugo Prata) em 2012. Ia tocando minha vida, minhas coisas, à espera da liberação das verbas para filmar. Fiz um teste para um novela do Manoel Carlos, A Regra do Jogo. Fui aprovada. Estava feliz da vida e aí o Hugo me disse que a grana estava sendo liberada e íamos filmar. O ideal, para mim, era fazer a Elis depois, mas isso representava um ano. Ele insistiu. Vamos fazer em dois meses e meio. Me deu duas semanas e meia para me preparar. Bicho, não dava. Com o coração despedaçado, disse pra ele que estava desistindo. Voltei para a novela e aí a Globo colocou o Alexandre Nero como meu par romântico. Eu tinha sido filha dele numa novela anterior. Seria demais na cabeça do público. Fui dispensada.
Liguei pro Hugo, que estava fazendo testes com um monte de atrizes. Achei que tinha perdido minha chance, mas… Voltei pra Elis.” O que é do homem, o bicho não come. “É impressionante quando as coisas têm de acontecer”, diz Laila. E as duas riem. Um riso de Elis.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.