Os fluxos de capital internacional para investimentos em renda fixa e ações nos países emergentes podem ter alguma recuperação em 2016, depois de apresentarem neste ano o pior nível desde a crise financeira mundial de 2008. A melhora, porém, deve ser modesta e os analistas em Wall Street falam que será bastante difícil por enquanto a volta das aplicações para patamares dos anos de boom, como 2011, principalmente agora que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) iniciou o ciclo de alta de juros.
Economistas de bancos e organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial já alertavam para o risco de saída de capital dos emergentes em razão do cenário externo adverso e de problemas internos de alguns dos países. Este ano já foi marcado pela saída forte de recursos. Só em novembro houve retirada de US$ 3,5 bilhões.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos maiores bancos do mundo, projeta que os fluxos de capital privado para investimento em renda fixa e ações devam ficar em US$ 550 bilhões este ano, a metade do que foi em 2014. Para 2016, o IIF estima que fiquem em US$ 780 bilhões, número que ainda será revisto. Apesar da melhora em relação a este ano, o valor está abaixo do que foi 2014, quando os investimentos líquidos de não residentes somaram US$ 1,1 trilhão.
Na América Latina, o movimento dos estrangeiros deve ser semelhante, com recuperação também fraca prevista para 2016, estimada pelo IIF em US$ 282 bilhões, ante US$ 274 bilhões esperados para 2015 e abaixo dos US$ 316 bilhões de 2014.
Analistas falam que três fatores externos podem influenciar o interesse dos investidores por emergentes, sem considerar os problemas internos de cada mercado. O principal deles é a alta de juros pelo Fed, que tende a continuar no ano que vem. O segundo é a desaceleração da China, que pode provocar estresse no mercado financeiro se ocorrer de forma mais intensa que o previsto. O terceiro é a queda do preço do petróleo, que traz preocupação sobre o crescimento econômico mundial.
No caso do petróleo, o chefe da área de Estratégia para Mercados Emergentes do Bank of America Merrill Lynch, Alberto Ades, avalia que a manutenção das cotações abaixo dos US$ 40 o barril pode piorar a situação de alguns emergentes dependentes da commodity e reduzir previsões de expansão para esse grupo de países. Por enquanto, ele prevê recuperação do PIB dos emergentes em 2016, com o ano marcando o primeiro período de aceleração do crescimento desde 2010. O Brasil, porém, deve ser exceção, com a economia encolhendo 3,5%.
Para o economista do BoFA, 2016 não promete ser um ano bom para os fluxos de capital internacional em direção aos emergentes. “Dificilmente será uma repetição de anos como 2011”, disse. Naquele ano, ganhou repercussão internacional a expressão do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que os emergentes estavam sendo invadidos por um “tsunami financeiro”, em razão dos juros muito baixos nos países desenvolvidos e da política de compra de ativos do Fed, que despejou US$ 4 trilhões na economia e foi encerrada em 2014. Para Ades, um dos maiores riscos para os emergentes é o Fed elevar os juros de forma mais intensa que o previsto, o que deve levar a nova realocação internacional das carteiras.
O diretor e chefe do Departamento de Pesquisa do Barclays, Christian Keller, também espera um ano fraco para os fluxos internacionais de capital. Além dos juros americanos, ele ressalta que há dúvidas sobre o que vai ocorrer com os preços das commodities. Por isso, o tom é de cautela entre investidores.
No caso brasileiro, o estrategista do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), John Welch, avalia que fatores externos, como a queda dos preços das commodities, devem seguir pesando, mas o problema principal é o mercado doméstico, com forte incerteza tanto no campo político como no econômico. Não se sabe, por exemplo, se Dilma Rousseff continuará no mandato no ano que vem ou mesmo quem pode ser seu substituto. O diferencial do País, diz ele, é que os juros estão muito altos e podem atrair o aplicador mais propenso a risco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.