A pandemia da covid-19 derrubou a participação dos investimentos em infraestrutura no Produto Interno Bruto (PIB) para o menor patamar, pelo menos, desde 2000. O desempenho começou a piorar a partir de 2013, se intensificou com a Operação Lava Jato e com a crise fiscal brasileira e alcançou o auge no ano passado, com o avanço do coronavírus no País.
Os dados constam do Relatório Infra2038 – uma publicação anual que busca avaliar as condições para o avanço da infraestrutura brasileira como pilar da competitividade global. O movimento surgiu em agosto de 2017 no encontro anual de líderes da Fundação Lemann. Desde então, tem medido os constantes retrocessos do setor.
De acordo com o relatório, no ano passado o País somou R$ 115,8 bilhões em investimentos no setor, ou 1,55% do PIB – queda de 5,4% em relação a 2019, quando o País ocupava a 78.º lugar no ranking mundial de competitividade.
Para chegar ao 20.º lugar até 2038, que é o objetivo desse movimento, o Brasil teria de investir cerca de R$ 339 bilhões por ano até esse período. Isso significaria ganhar três posições por ano no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Os investimentos teriam capacidade para gerar 9,2 milhões de empregos até 2038.
Apesar da queda nos investimentos no ano passado, é possível que o Brasil ganhe algumas posições no ranking mundial. Isso porque os investimentos em todo o mundo recuaram por causa da pandemia, diz o membro do comitê executivo do Infra2038 Frederico Turolla, sócio da consultoria Pezco Economics.
Outro motivo foram alguns leilões feitos no ano passado, que devem se converter em investimentos futuros. "O ranking é baseado em cobertura física e percepções, com peso igual. Vários leilões de grande magnitude foram realizados e tiveram sucesso, e isso coloca a infraestrutura no centro da pauta dos investidores e das empresas", segundo o relatório.
<b>Saneamento</b>
Para Joisa Dutra, outra conselheira do Infra2038, os sinais positivos vêm do saneamento básico. "O País tem tido sucesso em atrair investidores para esse setor que é extremamente carente de melhorias. A crise da pandemia foi custosa sobretudo para quem é privado desses serviços." Segundo ela, o foco da agenda atual é fechar o gap de água e esgoto no País. Um dos grandes avanços veio do megaleilão da Cedae, realizado no fim de abril e que exigirá investimentos da ordem de R$ 25 bilhões nos 35 anos de contrato.
Até o fim do primeiro semestre do ano que vem, outros cinco leilões de saneamento – cujos estudos estão sendo feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – devem ser realizados. No total, são R$ 17 bilhões em investimentos para universalizar e modernizar os serviços de água e esgoto para 10,4 milhões de pessoas.
"Temos plenas condições de atrair novos investidores privados para adequar a prestação de serviço e aumentar o número de pessoas atendidas", diz Joisa. Ela destaca que o setor de energia elétrica também tem grandes possibilidades de elevar os investimentos, sobretudo em energia eólica e solar. A expansão solar até agora veio da microgeração, diz ela, mas o País terá um aumento do número de projetos maiores.
Com base nessas expectativas e a realização de vários leilões neste ano, a previsão é que os investimentos em infraestrutura cresçam 18% neste ano, recuperando a participação de 1,69% do PIB de 2019. O maior crescimento deve ser verificado em saneamento básico e transportes – nesse caso, impulsionado pela construção do novo trecho da Ferrovia Norte Sul, pelo leilão da Ferrovia Oeste-Leste e pelas renovações de concessões, que envolvem alguns bilhões de investimentos como contrapartida.
"Como a recuperação está se mostrando forte em vários setores, e considerando o efeito dos leilões já realizados e das reformas setoriais, é provável que já em 2022 o investimento em infraestrutura chegue ao nível de 2% do PIB", segundo as projeções do relatório.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>