Estadão

IPCA, dúvida fiscal, varejistas e temor com juro alto nos EUA pesam no Ibovespa

A aversão a risco internacional contamina nesta sexta-feira, 10, o Ibovespa, que tenta ao menos defender a marca dos 104 mil pontos, após abrir aos 105.071,19 pontos. Em meio a leituras díspares do relatório de emprego dos Estados Unidos de fevereiro, divulgado mais cedo, os índices futuros de ações de Nova York têm sinais variados.

Por aqui, o IPCA do mês passado mais forte coloca em debate se de fato é hora de começar a cortar a taxa Selic. Com isso, o índice Bovespa ameaça fechar a semana em queda. Perto de 11 horas, subia apenas 0,24% no período, depois de ceder 1,83% na passada.

A economia dos EUA criou 311 mil empregos em fevereiro, acima do teto das estimativas na pesquisa do Projeções Broadcast, de 300 mil vagas (piso de 180 mil e mediana em 220 mil).

"É um dado maior que o esperado que pode fazer com que o Fed suba os juros em meio ponto porcentual neste mês", afirma Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3. "Vimos queda das commodities recentemente e ainda assim inflação está elevada, o que tende a se refletir no r o mercado de trabalho, que está forte e é mais difícil de controlar."

Há instantes, o índice Bovespa voltou a acelerar o ritmo de baixa, perdendo a marca dos 104 mil pontos vista mais cedo, após quase zerar a queda na esteira da alta no pré-mercado norte-americano de ações.

Por ora, a avaliação dos especialistas sobre o relatório de emprego dos Estados Unidos é divergente. "Parece um dado bem negativo, pois a criação de vagas veio muito acima do esperado", diz Rafael Schmidt, operador de renda variável da One Investimentos, ao se referir em termos de pressão no Fed.

Porém, acrescenta Schimidt, "há uma reação mista dos mercados. O dado de desemprego, de 3,6% de previsão de 3,4%, é um indicativo de desaceleração da economia. Isso é que o salva alivia os índices futuros de NY", avalia o operador de renda variável da One.

A taxa de desemprego dos EUA subiu para 3,6% em fevereiro, ante 3,4% em janeiro. O consenso do mercado era de manutenção da taxa em 3,4% no mês passado.

"O payroll veio bem acima das expectativas do mercado, por mais que tenha revisão para baixo dos dados anteriores. Isto deve dar continuidade ao movimento de correção das expectativas no mercado juros", avalia Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.

Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, o payroll tira um pouco a pressão sobre o Fed, que decidirá os juros neste mês, após o avanço das apostas de alta de 0,25 ponto porcentual para meio ponto. "Bota pressão no CPI índice de inflação ao consumidor dos EUA, que sai na semana que vem. O mercado está meio confuso", diz.

No Brasil, a espera por uma definição do arcabouço fiscal e a inflação forte no IPCA de fevereiro reforçam a cautela dos investidores, em meio ainda a dúvidas sobre o setor financeiro no exterior. "O episódio envolvendo os bancos tornou a aposta na curva de juros mais equilibrada, mas os indicadores de hoje e o CPI da próxima semana devem definir a questão", cita em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria. A decisão do Silicon Valley Bank de vender uma grande parte de seu portfólio levantou dúvidas sobre a solidez de bancos regionais americanos e contaminou todo o setor bancário em Nova York.

Enquanto o mercado local espera a definição do arcabouço fiscal, analisa uma série de balanços divulgados entre a noite de ontem e esta manhã, como o da Magazine Luiza e da Embraer. Além disso, a inflação segue no radar, o que pode desanimar algumas previsões de antecipação de queda da taxa Selic.

O IPCA acelerou a 0,84% em fevereiro (de 0,53%), acumulando 5,60% em 12 meses (de 5,775). O resultado mensal ficou perto do teto das estimativas (0,89%) e acima da mediana de 0,78% (piso era 0,67%) na pesquisa do <b>Projeções Broadcast</b>. Conforme o economista da Tendências, com o IPCA de fevereiro pressionado, a inflação segue sendo um elemento a dificultar apostas muito agressivas de corte da Selic no curto prazo.

O quadro alto de inflação reforça a parcimônia do setor de consumo na B3, ainda mais em dia de resultados de algumas varejistas. O Magazine Luiza saiu de lucro líquido de R$ 93 milhões no quarto trimestre de 2021 e registrou prejuízo líquido de R$ 35,9 milhões no último trimestre de 2022. A empresa informou ainda que vai apurar uma denúncia anônima de bonificações por compras de fornecedores e distribuidores. Já a Via – dona da Casas Bahia e do Ponto – apresentou prejuízo líquido de R$ 163 milhões no último trimestre do ano passado, depois de lucro há um ano. As ações da Via cediam 11,34% e as da Magazine Luiza perdiam 5,90% perto de 11h30.

Em meio à leve alta de 0,11% do minério de ferro em Dalian, na China, as ações da Vale subiam 0,28%. Já o petróleo tem instabilidade no exterior e os papéis da Petrobras cediam 0,08% (PN) e 0,28%). Destaque para grandes bancos, com recuo de até 2%.

Ontem, o índice Bovespa encerrou com recuo de 1,38%, aos 105.071.19 pontos.

Às 11h30, perdia 0,94%, aos 104.082,19 pontos, ante mínima aos 103.767,95 pontos (-1,24%).

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