Estadão

Ipec: Para 72%, policiais não acreditam em denúncias de violência doméstica

Sete em cada dez brasileiros afirmam que os policiais não acreditam na seriedade das denúncias de violência doméstica e que a Justiça trata esse tipo de agressão como um assunto pouco importante. É o que revela pesquisa realizada pelo Ipec, em parceria com o Instituto Patrícia Galvão e o Instituto Beja, divulgada na quinta-feira, 17.

No levantamento, ao serem perguntados se a mulher que sofreu violência doméstica procurou algum tipo de ajuda aparecem principalmente as seguintes respostas: delegacia de polícia (42%), delegacia da mulher (39%), amigos e familiares (31%), psicólogo (22%) e advogado (19%). Para 66%, no entanto, a primeira escolha deveria ser uma delegacia da mulher.

Ainda segundo o estudo, metade da população conhece ao menos uma mulher que sofreu agressões físicas e/ou verbais do (atual/ex) marido, companheiro ou namorado. Ao terem conhecimento de algum caso, a principal reação das pessoas é conversar com a vítima, conforme responderam 58% dos entrevistados, geralmente para aconselhá-la a denunciar para polícia (53%) e a terminar o relacionamento violento (48%). Do total, apenas 17% disseram ter conversado com o agressor.

O levantamento revela ainda que 36% das 800 brasileiras entrevistadas já foram vítimas de violência doméstica. Entre as mais citadas estão violência psicológica (27%) e violência física (17%), com mais relatos entre as mulheres negras do que entre as brancas.

Além disso, uma a cada dez mulheres entrevistadas declarou já ter sofrido violência sexual praticada pelo parceiro (atual ou ex). Entre as participantes do estudo, 7% disseram ter sofrido violência patrimonial, que é quando não podem controlar o próprio dinheiro.

No questionário, 66% dos homens que admitem alguma forma de agressão contra sua parceira, esposa, companheira ou namorada afirmam ter resolvido a situação na conversa.

Ainda de acordo com o estudo, 99% dos participantes acreditam que é preciso ampliar o número de serviços de assistência às mulheres agredidas, incluindo as pequenas e médias cidades do País.

Ao mesmo tempo, 98% dos entrevistados avaliam ser necessário aumentar o número de delegacias especializadas no atendimento à mulher, que hoje existem em apenas 7% das cidades brasileiras.

Entre as medidas que devem ser adotadas a fim de evitar que casos de violência doméstica contra a mulher continuem acontecendo no Brasil, 97% citam campanhas para estimular a denúncia, enquanto 95% defendem o aumento de penas para este tipo de crime.

Para melhorar o atendimento dos serviços públicos para as mulheres que sofrem violência doméstica os entrevistados citam a garantia de proteção para as que denunciam (99%), a agilidade no andamento da investigação das denúncias (99%) e a ampliação da capacitação de profissionais de saúde e assistência social para reconhecer e orientar vítimas de violência doméstica (98%). Afirmam ainda que deve haver treinamento de funcionários para melhorar o atendimento dos canais de denúncia (98%).

Além disso, para 61% dos entrevistados, o apoio e acolhimento da família e dos amigos é fundamental para que as mulheres que sofrem constantes agressões saiam de relações violentas.

De abrangência nacional, a pesquisa Redes de apoio e saídas institucionais para mulheres em situação de violência doméstica realizou 1.200 entrevistas telefônicas, sendo 800 com mulheres e 400 com homens de 18 anos, entre 14 a 24 de outubro de 2022. Com nível de confiança estimado em 95%, a margem de erro máxima é de três pontos porcentuais, para mais ou para menos.

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