O porta-voz do parlamento iraniano disse neste domingo (23) que um acordo temporário entre Teerã e inspetores internacionais para preservar as imagens de vigilância tiradas em instalações nucleares terminou, aumentando as tensões em meio a esforços diplomáticos para salvar o acordo atômico da República Islâmica com as potências mundiais.
Enquanto representantes linha-dura exigiam que o Irã excluísse as imagens, uma entrevista coletiva planejada anteriormente pelo chefe da Agência International de Energia Atômica (AIEA) em Viena foi adiada. Isso sinalizou que as negociações entre a agência das Nações Unidas e Teerã continuariam durante a noite de domingo.
As discussões de última hora ressaltaram ainda mais o estreitamento da janela para os EUA e outros chegarem a um acordo com o Irã. A República Islâmica já está com enriquecimento e armazenamento de urânio em níveis muito além dos permitidos pelo acordo nuclear de 2015.
O parlamento linha-dura do Irã aprovou em dezembro um projeto de lei que suspenderia parte das inspeções da ONU em suas instalações nucleares se os signatários europeus não fornecessem alívio das sanções sobre petróleo e bancárias até fevereiro. A AIEA fechou um acordo de três meses com o Irã em fevereiro para mantê-lo sob vigilância de imagens, com Teerã ameaçando excluí-las depois se nenhum acordo tivesse sido alcançado. Esse prazo de três meses expirou na sexta-feira sob o calendário gregoriano. No calendário persa, porém, o prazo de três meses vence na segunda-feira.
Na manhã de domingo, durante uma sessão do parlamento, o porta-voz Mohammad Bagher Qalibaf anunciou que o acordo havia expirado. Ele disse que o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final em todos os assuntos de Estado, apoiou a decisão de ver o acordo como nulo. "Após esses três meses, a Agência Internacional de Energia Atômica definitivamente não terá o direito de acessar as imagens da câmera ou transferi-las", disse ele. Qalibaf, membro do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, anteriormente antecipou outro anúncio sobre o programa nuclear em abril.
Horas depois, no entanto, um site chamado <i>Nournews</i>, que se acredita ser próximo do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, citou uma autoridade sem nomeá-la sugerindo que o acordo de Teerã com a AIEA poderia ser estendido por "mais um mês".
Em Viena, a AIEA havia dito que seu diretor-geral, Rafael Mariano Grossi, faria um briefing a jornalistas na tarde de domingo sobre o Irã. A agência disse na noite de domingo que o briefing seria adiado porque as consultas entre a AIEA e o Irã continuam.
Não ficou imediatamente claro se as imagens de fevereiro até sábado tinham sido excluídas. Antes dos comentários de Qalibaf, o legislador Ali Reza Salimi pediu uma abertura da sessão do parlamento para garantir que o braço nuclear civil do Irã "apagasse" as imagens. A Organização de Energia Atômica do Irã não comentou imediatamente a decisão. "Ordene ao chefe da Organização de Energia Atômica que evite atrasos", disse Salimi, um clérigo da cidade de Delijan, no centro do Irã. As imagens "gravadas nas câmeras devem ser eliminadas."
Sob um acordo confidencial denominado "Protocolo Adicional" com o Irã, a IAEA "coleta e analisa centenas de milhares de imagens capturadas diariamente por suas câmeras de vigilância sofisticadas", disse a agência em 2017.
Também não estava claro o que isso significa para as inspeções presenciais da AIEA. Existem 18 instalações nucleares e nove outros locais no Irã sob vigilância da associação. Fonte: Associated Press.