O Parlamento do Iraque aprovou neste domingo, 5, uma resolução que exige a retirada de tropas dos EUA do país. A decisão foi um resposta ao ataque que matou o general iraniano Qassim Suleimani, em Bagdá, na sexta-feira. Outra consequência direta da operação americana foi a iniciativa do governo do Irã de suspender o acordo nuclear de 2015.
Em comunicado, o governo iraniano declarou que seu "trabalho de enriquecimento de urânio não respeitará mais o acordo" e não terá mais restrições. O pacto – firmado com Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China – limitava o nível de enriquecimento a 3,6%.
O urânio de baixo enriquecimento é usado para gerar energia. Para ser usado em uma bomba atômica, o material precisa ser enriquecido até 90%. No entanto, uma vez que um país tenha capacidade de enriquecê-lo a aproximadamente 20%, o tempo necessário para chegar a 90% é reduzido pela metade, segundo os cientistas.
O acordo nuclear vem sofrendo golpes desde maio de 2018, quando Donald Trump retirou os EUA do pacto. Em julho, o Irã afirmou que estava pronto para enriquecer urânio a qualquer nível e em qualquer quantidade. Na época, o processo de enriquecimento alcançou os 5%. Em setembro, Teerã descumpriu mais uma etapa do acordo ao começar a produzir urânio em centrífugas avançadas.
<b>Por um fio</b>
O que segurava o pacto era a diplomacia europeia, que vinha acenando com a possibilidade de driblar as sanções americanas e incrementar o comércio com o Irã. A União Europeia, porém, nunca conseguiu de fato encontrar uma maneira de escapar das restrições impostas pelos sistema financeiro americano.
Outro problema para os EUA foi a decisão do Parlamento iraquiano de expulsar os 5,2 mil militares americanos do país, que depende agora da assinatura do primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi. Como foi o premiê que recomendou a resolução aos deputados, ele não deve impor objeções. Apesar de ter sido governado durante décadas por um ditador sunita – Saddam Hussein -, a maioria da população iraquiana é xiita, como a do vizinho Irã.
Por isso, a nova democracia iraquiana é refém de deputados xiitas e da pressão externa de Teerã. O placar da votação deste domingo foi 170 a 0. No entanto, muitos dos 328 deputados – principalmente sunitas e curdos – não votaram. A eventual retirada das tropas dos EUA do Iraque teria graves consequências para a influência americana na região.
O primeiro efeito catastrófico seria o aumento da influência regional iraniana. O segundo resultado da retirada americana seria a perda de capacidade dos EUA de combater o terrorismo – o que já aconteceu. No domingo, a coalizão internacional que luta contra o Estado Islâmico suspendeu suas operações contra o grupo terrorista para se concentrar na proteção dos soldados americanos.
Diante do cenário sombrio, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, tentou minimizar a decisão do Parlamento iraquiano. Ao fazer uma blitz nos principais programas dominicais da TV americana, ele garantiu que o povo iraquiano quer que os EUA permaneçam no país e continuem a luta contra o terrorismo. "Ele (Mahdi) está sendo pressionado pelo Irã", disse Pompeo ao programa Fox News Sunday.
Pompeo teve também de defender uma nova ameaça de Trump ao Irã. Pelo Twitter, o presidente americano disse que atacaria 52 alvos "importantes para a cultura iraniana", caso Teerã mantivesse sua promessa de vingar o assassinato de Suleimani. Vários analistas, além do chanceler do Irã, Mohamed Zarif, alertaram que atacar sítios culturais é "crime de guerra". No domingo, Pompeo se limitou a dizer que os EUA "agirão dentro da lei".
O corpo de Suleimani foi levado neste domingo de Bagdá para Ahvaz, no sudoeste do Irã, e depois para a cidade de Mashhad, um importante centro religioso xiita no nordeste do país. Em todo o trajeto, o corpo do general foi acompanhado por uma multidão. Ele será enterrado na terça-feira (7) em Kerman, sua cidade natal. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>