Os legisladores da Irlanda expressam sentimentos de choque e dúvida neste domingo, sobre se o próximo governo do país deve ser uma aliança histórica de inimigos seculares, ou se deve haver uma segunda eleição.
Com dois terços dos vencedores declarados na eleição para preencher um parlamento de 158 membros, o novo cenário político parece ser o mais dividido na história da Irlanda. Os dois maiores partidos de centro do país – o governista Fine Gael e o oposicionista Fianna Fail – permanecem praticamente cabeça a cabeça, com o Fine Gael conseguindo 31 assentos parlamentares, enquanto o Fianna Fail tem 30.
Analistas projetam que o Fine Gael deve terminar as eleições com alguns parlamentares a mais que seu rival Fianna Fail. Mas ambos não seriam capazes de formar uma maioria parlamentar, mesmo depois de formar aliança com um outro partido político, exceto se houver uma coalizão entre os dois partidos.
Com os eleitores revoltados pelo colapso econômico da Irlanda de 2008, o resgate financeiro de 2010 e por anos de austeridade fiscal, considerada necessária para reparar os problemas do país, houve um grande apoio, na eleição de sexta-feira, a diversos grupos de oposição. Pela primeira vez na história eleitoral irlandesa, os votos combinados para Fianna Fail e Fine Gael ficaram abaixo de 50% do total.
Os dois partidos evoluíram a partir de lados opostos da guerra civil que se seguiu à independência da Irlanda da Grã-Bretanha, em 1922. Os dois partidos sempre se revezaram no poder na Irlanda, e nunca dividiram o poder com o rival.
Mas nenhum dos lados descartou a possibilidade de formar uma parceria, se a estabilidade do governo exigir isso. Poucas alternativas parecem viáveis em um parlamento cada vez mais lotado com micro-partidos sem experiência e políticos hostis a ambos os partidos dominantes.
O partido nacionalista Sinn Fein terminou em terceiro lugar com 13,8% dos votos. Mas ambos Fine Gael e Fianna Fail descartaram a possibilidade de cooperação, citando os laços do Sinn Fein com o Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês), que foi banido.
Os principais nomes dos dois partidos disseram hoje que não conseguem ver como grupos que sempre se esforçaram para prejudicar a outra parte podem formar um gabinete unido que possa resistir por meses, muito menos por cinco anos. Eles projetam que as negociações de coalizão podem levar semanas para começar, e essa dificuldade forçaria a Irlanda a realizar uma segunda eleição. O país não repete uma eleição parlamentar por conta desse tipo de problema desde 1982.
As recontagens dos votos em um sistema eleitoral complexo como o da Irlanda, com sistema de rodadas múltiplas e representação proporcional, devem durar pelo menos até amanhã. Está prevista para 10 de março a convocação do novo parlamento para eleger um primeiro-ministro. Fonte: Associated Press