Juan Antonio "Tony" Hernández, irmão do presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, foi condenado nesta terça-feira, 30, à prisão perpétua por narcotráfico por um juiz federal de Nova York. Ele foi considerado culpado em um julgamento em 2019 pelo tráfico de 185 toneladas de drogas para os Estados Unidos, segundo os promotores americanos, com a ajuda do seu irmão, uma acusação que o presidente do país centro-americano nega.
Também ex-deputado, Tony Hernández, de 42 anos, foi considerado culpado por outras três acusações de tráfico de cocaína para os EUA, falso testemunho e posse de armas de fogo. O juiz Kevin Castel disse que a sentença de prisão perpétua para Hernández, que foi detido em um aeroporto de Miami em novembro de 2018, era "muito merecida".
Os promotores do distrito sul de Nova York asseguraram em seu processo que o presidente de Honduras foi um sócio-chave de seu irmão, embora ele não tenha sido acusado. Os promotores exigiram prisão perpétua, ressaltando que Hernández "não demonstrou nenhum remorso", enquanto a defesa havia pedido a pena mínima de 40 anos.
"O réu era um congressista hondurenho que, junto com seu irmão Juan Orlando Hernández, desempenhou um papel de liderança em uma violenta conspiração de tráfico de drogas patrocinada pelo Estado", escreveram os promotores ao juiz antes da sentença.
Tony Hernández atuou "com total impunidade" graças à proteção de seu irmão e contribuiu para a "putrefação" das instituições hondurenhas, afirmou também a promotoria durante o julgamento.
Uma testemunha da acusação, o ex-traficante de drogas e ex-prefeito hondurenho Alexander Ardón, testemunhou no processo que presenciou uma reunião em 2013 na qual o agora encarcerado Joaquín "Chapo" Guzmán, então chefe do cartel mexicano de Sinaloa, entregou US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 5,6 milhões) em espécie para Tony Hernández para a campanha eleitoral de seu irmão.
O presidente de Honduras também foi acusado por promotores americanos de ser parceiro de outro narcotraficante hondurenho, Geovanny Fuentes Ramírez, considerado culpado de tráfico de drogas em 22 de março, após um julgamento presidido pelo mesmo juiz Castel.
Juan Orlando Hernández, advogado que chegou ao poder em janeiro de 2014, e que está em seu segundo mandato, nega ter sido sócio do seu irmão ou de Fuentes no tráfico de cocaína para os Estados Unidos, e afirma que traficantes de drogas que testemunharam contra seu irmão em ambos os processos querem vingança contra ele por sua luta contra essa atividade ilícita.
<b>Acusação de narcoestado </b>
Apesar das justificativas que Hernández apresentou, a Promotoria vem insistindo há dois anos que Honduras é um "narcoestado" e que ele e os ex-presidentes Porfirio Lobo e José Manuel Zelaya, o vice-presidente Ricardo Arias e outros políticos de alto escalão, profissionais da Justiça e do setor de segurança aceitaram propinas em troca de proteger e facilitar o tráfico de drogas em seu território.
A primeira ofensiva contra o presidente hondurenho, contra o qual ainda não existem acusações formais nos EUA, começou com a prisão de seu irmão. Em 2019, como parte desse processo, a acusação relacionou o presidente com uma conspiração para usar dinheiro da droga para permanecer no poder.
No total, ele teria recebido pelo menos US$ 1,5 milhão em propinas como apoio para sua campanha presidencial em troca de proteção, conforme declarado por Ardón.
Hernández chamou então de "falsas e perversas" as alegações de que ele havia usado dinheiro da droga em sua campanha eleitoral de 2013, desencadeando uma troca de acusações com a Promotoria que dura até hoje. Entretanto, o veredicto de culpado contra seu irmão deu um impulso às autoridades americanas. (com agências internacionais)