O irmão da vereadora guarulhense Genilda Bernardes (PT), Gilmar Aparecido Alves Bernardes, foi preso nesta manhã na Operação Sanctorum, realizada pela Polícia Civil. Ele e mais dois homens são acusados de participarem de um esquema de desvio de verbas de emendas parlamentares de deputados estaduais e federais ainda não identificados destinadas a hospitais filantrópicos, com a compra superfaturada de equipamentos médico-hospitalares. Genilda, que foi secretária de Desenvolvimento e Assistência Social de Guarulhos, desde o início do segundo mandato do prefeito Sebastião Almeida (PT) até abril, é ligada ao grupo político do deputado estadual Alencar Santana (PT).
Em entrevista ao GuarulhosWeb, Genilda confirmou ser irmã de Gilmar, mas disse que não sabe o que aconteceu. "Só sei o que deu na imprensa". E completou: "Tivemos algumas divergências políticas e cada um foi para um lado".
Gilmar Aparecido Alves Bernardes foi preso em Presidente Prudente. Ronildo Pereira de Medeiros e Luiz Antônio Trevisan Vedoin, que já haviam sido presos na Operação Sanguessugas, em 2006, foram detidos em Cuiabá (MT). Segundo reportagem publicada pelo G1, em Presidente Venceslau, os policiais civis realizaram buscas e apreensões na Santa Casa e na residência e no escritório do provedor do hospital, Antonio José Aldrighi dos Santos. O delegado Mauro Shiguetoshi Chiyoda, que coordena a operação em Cuiabá, informou o cumprimento das prisões e de buscas nas residências dos envolvidos.
De acordo com a Polícia Civil, há demonstração de existência de "prática de crimes de extorsão, peculato, apropriação indébita, associação criminosa ou organização criminosa, crimes contra a ordem tributária e lavagem de capitais”.
Ainda segundo a reportagem do G1, “as investigações apuraram que o grupo coopta provedores de hospitais filantrópicos, muitas vezes com a promessa de pagamento de vantagem indevida e, em seguida, com a liberação dos recursos, a mesma organização empresarial criminosa ingressa na venda dos produtos por meio de empresas 'fantasmas' registradas em nome de 'laranjas', com a venda de produtos em valor muito superior ao de mercado, isso quando efetivamente ocorre a entrega”, apontou a Polícia Civil.
Contudo, ainda não se sabe se isso ocorreu ou como houve o pagamento ao provedor Antonio José Aldrighi dos Santos, da Santa Casa de Presidente Venceslau. Por enquanto, foi apurado que houve a compra de equipamentos superfaturados, além de medicamentos e produtos hospitalares que constam em notas fiscais emitidas por uma empresa fantasma, totalizando cerca de R$ 800 mil, mas que nunca entraram no estoque do hospital.
Esses indícios foram confirmados pelo provedor Antonio José Aldrighi dos Santos, em confissão ocorrida no dia 26 de maio de 2016, na sede da Central de Polícia Judiciária (CPJ), em Presidente Venceslau, "o que revela um extenso esquema criminoso voltado a solapar o diminuto e sagrado patrimônio do Estado voltado ao precário sistema de saúde do Brasil, que tem como elo importante as Santas Casas como integrantes do Sistema Único de Saúde”, conforme a Polícia Civil.
“As investigações de Polícia Judiciária demonstraram, ainda, que no início de 2012, Ronildo Pereira de Medeiros, agindo com o cooptador para a área do Estado de São Paulo e Norte do Paraná, Gilmar Aparecido Alves Bernardes, realizaram uma reunião no Hotel Colúmbia, na cidade de São Paulo, em que participaram Antonio José Aldrighi dos Santos e outros vinte provedores de hospitais públicos e filantrópicos, quando então os provedores e diretores entregaram uma lista de equipamentos de interesse aos nosocômios, ao assessor do então deputado federal e líder do governo federal, à época, Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza”, pontuou a corporação.
O G1 tentou contato por telefone com Vaccarezza nesta quinta-feira (2) para abordar o assunto, mas não obteve êxito.
Ainda segundo a polícia, os participantes saíram da reunião cientes de que com a liberação das verbas as compras deveriam ser realizadas diretamente das empresas indicadas por Medeiros, sendo estas as instituições fantasmas gerenciadas pelo empreendimento criminoso. Para a Santa Casa de Presidente Venceslau, a promessa inicial consistia na liberação de R$ 2,8 milhões, quantia que acabou sendo reduzida a R$ 800 mil.
“Não bastassem as evidentes práticas de malversação dos fundos públicos, os integrantes da organização criminosa agem com o nítido pensamento de que as quantias destinadas aos hospitais filantrópicos lhes pertencessem, pelo que, ao que consta, passaram a promover ameaças de morte ao provedor da Santa Casa de Presidente Venceslau, tão logo souberam de que não ocorreria o pagamento inicial por conta daquele ato proveniente do Governo do Estado de São Paulo que, por motivos de saúde financeira e orçamentária, alterou a natureza das verbas incorporadas ao patrimônio estadual para exclusivamente custeio”, salientou a Polícia Civil.
As investigações também verificaram que, após o repasse dos valores às contas das Santas Casas, Medeiros passou a enviar os equipamentos, simulando notas de doações emitidas por uma empresa fantasma. Em um levantamento da CPJ, apurou-se junto à Vigilância Sanitária do local da sede, em Carapicuíba (SP), que tal instituição nunca existiu fisicamente naquele endereço.
“Em âmbito local, concomitante às notas fiscais de doação, Medeiros teria iniciado um ciclo de ameaças ao provedor e investigado Antonio José Aldrighi dos Santos, o que teria ocorrido inclusive com telefonemas a sua residência. Segundo o provedor local, Ronildo, que se identifica como Pereira, descobriu de alguma forma [talvez com a participação de Gilmar] sobre a morte do filho de Antonio José por infecção hospitalar e durante o velório teria realizado uma ligação ao provedor com a afirmação de que ambos deveriam ser enterrados. As ameaças são graves e revelam a insensibilidade dos operadores do sistema criminoso”, enfatizou a corporação.
Essas ameaças retratadas pelo provedor foram confirmadas por um outro funcionário do hospital, que prestou depoimento em 28 de maio de 2016, também na CPJ.
“Em seguida, em nova reunião, desta vez na sede da Santa Casa, Pereira apresentou definitivamente Vedoin como sendo o proprietário da empresa Denivaldo Mateus de Lima Ltda.-ME. Na oportunidade, segundo versão unilateral do provedor, Pereira teria proferido grave ameaça na presença de Vedoin e de outros funcionários e conselheiros da Santa Casa de Presidente Venceslau”, disse a Polícia Civil.
As investigações também concluíram que neste ano eles voltaram a se encontrar em novas reuniões de cobrança, tanto na cidade de São Paulo como em Presidente Prudente, sempre com a presença de Vedoin, Medeiros e com a “imprescindível participação do operador local do sistema criminoso, Gilmar Aparecido Alves Bernardes”.
“É certo, entretanto, que somente após o dia 29 de abril de 2016 a autoridade policial tomou conhecimento dessas reuniões, por meio de informações fornecidas pelo advogado do provedor local”, destacou a polícia.
As informaçoes foram levantadas pelo portal G1 (Prudente e Região).