Há tempos, São Paulo não via o Iron Maiden em plena forma. Não entenda mal. A banda que passou pela cidade pela última vez em 2013, na Arena Anhembi, ainda exibiu o fôlego acima do normal – para os outros, não para o Maiden. Nada se compara com o renascimento do grupo desde o ano passado. Com Book Of Souls, seu mais recente disco, a trupe liderada pelo baixista Steve Harris se encontrou de novo. De uma sequência de discos medianos, entregaram uma obra digna dos melhores anos da banda, nos anos 1980. E seis dessas canções foram apresentadas no Allianz Parque, na noite do último sábado, 26.
O Iron Maiden não entrou com o jogo ganho. E, para uma banda com mais de quatro décadas de estrada, é uma atitude louvável. Não precisou apelar para os seus craques, de discos como Fear of The Dark, Powerslave, Piece of Mind e a estreia Iron Maiden. Investiu tudo o que tinha em Book of Souls, um álbum que resgata justamente todas as virtudes da banda.
“Último show no Brasil. Guardar o melhor show para o final”, disse o vocalista Bruce Dickinson, ao final da segunda música, Speed of Light, single do novo disco. As três guitarras conversam como velhos amigos na mesa do bar. Sem a necessidade formalidades, Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers trocam bases por solos, riffs por conduções em três tempos, enquanto jogam as cabeleiras para cima e para baixo, e colocam as pernas em cima dos amplificadores.
Enquanto Nicko McBrain segue furioso como nunca nas baquetas em sua bateria, Steve Harris é comandante do navio chamado Iron Maiden. Dita ritmos e a dança proporcionada pelo restante dos integrantes da banda. Com sua cavalgada única, uma marca registrada que o coloca entre os melhores baixistas que já passaram pelo planeta, ele esmurra três dedos nas cordas grossas do seu baixo impiedosamente.
Nenhuma presença, contudo, se compara a de Dickinson. São poucos os vocalistas no rock mundial que, mesmo sem exercerem a função de líder de uma banda, são tão essenciais. Dickinson é uma máquina de gritos e falsetes. De agudos ardidos, mas sem exageros. E grande parte desse renascimento do Iron Maiden se deve a ele. Depois de lutar e vencer um câncer, o vocalista voltou à banda, sem deixar que a melancolia da proximidade da morte o afetasse.
Embora seja o show mais corajoso da banda em tempos, não foi aquele dos mais populares. Havia, nas laterais da pista, aqueles que preferiam sentar durante algumas canções – principalmente aquelas do novo disco, infelizmente. Mas isso não significa que essa apresentação, diante de 42 mil pessoas, não tenha sido significativa. Pelo contrário. O Iron Maiden se mostrou mais vivo do que nunca.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.