Pela primeira vez em 12 anos, a Knesset, o parlamento israelense, aprovou ontem um governo liderado por alguém que não é Binyamin Netanyahu e abriu uma nova etapa na história política de Israel. A coalizão costurada por Yair Lapid, líder do Partido Yesh Atid, de centro, e Naftali Bennett, do Yamina, de direita, obteve uma apertada maioria de 60 votos a favor, 59 votos contra e 1 abstenção.
O novo governo será formado por uma ampla aliança de oito partidos que vai de nacionalistas judeus de direita, partidos de esquerda a políticos árabes-israelenses. A coalizão que une tradicionais rivais foi concebida com o principal objetivo de depor Netanyahu.
Após seus partidários comemorarem o anúncio, Bennett trocou um breve aperto de mãos com Netanyahu antes de prestar juramento como primeiro-ministro. “Entendo que hoje não é um dia fácil para muitos, mas também não é um dia de luto, é um dia de mudança, de mudança de regime no marco de uma democracia”, disse em seu discurso o líder ortodoxo do movimento nacionalista religioso de Israel e um ex-aliado de Netanyahu. “Prometo que este governo funcionará para o país como um todo, ninguém deve ter medo”, acrescentou. Ele também alertou que seu governo não deixará “o Irã desenvolver armas nucleares” e “reserva absoluta liberdade de ação” contra Teerã.
Segundo o acordo, Lapid e Bennett dividirão o cargo de primeiro-ministro em rodízio. Lapid, um líder centrista, deve assumir o lugar de Bennett depois de dois anos, se o governo conseguir se manter unido por tanto tempo.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, parabenizou o novo líder israelense. “Felicito o primeiro-ministro Naftali Bennett, o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, e todos os membros do novo gabinete israelense”, disse em um comunicado.
Biden acrescentou que está “totalmente comprometido em trabalhar com o novo governo israelense para promover segurança, estabilidade e paz para israelenses, palestinos e povos de toda a região”.
<b>Composição</b>
Depois das últimas eleições legislativas de março, a oposição se uniu contra Netanyahu e surpreendeu ao conquistar o apoio do pequeno partido Lista Árabe Unida, o primeiro partido árabe a fazer parte de uma coalizão governista. O Lista Árabe Unida, que foi cortejado por Netanyahu e Lapid, exigiu novos programas e gastos para os cidadãos árabes de Israel, que representam cerca de 20% da população. Partidos ultraortodoxos, antigos aliados de Netanyahu, não farão parte do governo pela primeira vez, com duas breves exceções, desde 1977.
“O governo trabalhará para toda a população, religiosa, laica, ultraortodoxa, árabe, sem exceção”, prometeu Bennett. “A população merece um governo responsável e eficaz que coloque o bem do país em primeiro lugar em suas prioridades”, acrescentou Lapid, que se tornará ministro das Relações Exteriores durante os próximos dois anos.
Lapid intermediou o acordo de divisão de poder entre oito partidos com pouco em comum além da determinação de acabar com o contencioso governo de Netanyahu, que se agarrou ao poder apesar de ser julgado por corrupção e não conseguir obter a maioria após quatro inconclusivas eleições em dois anos.
O partido Likud, de Netanyahu, se comprometeu com uma “transição pacífica de poder” após mais de dois anos de crise política. Se a aliança não fosse aprovada, os israelenses teriam de participar de um quinto processo eleitoral em pouco mais de dois anos.
Não faltarão desafios para o novo governo, como uma marcha planejada para amanhã pela extrema direita israelense em Jerusalém Oriental, um setor palestino ocupado por Israel.
O movimento radical islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, enclave palestino sob bloqueio israelense, ameaçou retaliar se a marcha ocorrer perto da Esplanada das Mesquitas. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>