Após testemunhas relatarem que a polícia dificultou a dispersão de peregrinos no início da confusão que gerou a morte de ao menos 44 pessoas, durante uma festa religiosa no Monte Meron, ao norte de Israel, o Ministério da Justiça do país disse que vai investigar se houve má conduta policial relacionada à tragédia. A polícia informou ao jornal <i>Haaretz</i> que iniciou uma investigação sobre o incidente, em que ao menos 150 pessoas ficaram feridas. As circunstâncias exatas da tragédia ainda não foram determinadas.
Algumas testemunhas disseram ao jornal israelense que policiais acabaram aumentando o problema ao não permitir que as pessoas se dispersassem logo após o início do tumulto, o que a corporação nega.
Vídeos que circularam nas redes sociais mostraram um grande número de judeus ultraortodoxos agrupados em espaços apertados. Eles estavam aos pés do Monte Meron para celebrar "Lag BaOmer", um feriado judaico em homenagem ao rabino Shimon bar Yochai, que viveu no século 2 e está enterrado no local.
"A polícia chegou (…) e decidiu fechar a rampa de saída de uma das fogueiras, que estava lotada", relatou à agência AFP Shmuel, de 18 anos, que testemunhou o ocorrido. "Chegaram mais pessoas, cada vez mais (…) A polícia não permitia a saída e começaram a se apertar uns contra os outros, e depois a se esmagar". "A polícia não reabriu (a barreira) até que se rompeu e toda a multidão explodiu para os lados. Dezenas de pessoas morreram esmagadas, uma catástrofe", completou Shmuel.
Essa foi a primeira grande reunião religiosa desse tipo a ser realizada legalmente desde que Israel suspendeu quase todas as restrições relacionadas à pandemia do novo coronavírus.
Amit Sofer, membro do conselho regional de Merom Hagalil, afirmou que as autoridades pensaram inicialmente que "um palco havia desabado". "Eu tinha acabado de me sentar para comer quando ouvi os gritos. Corremos para ajudar e então vimos os corpos. No início eram cerca de dez. Agora, há muitos mais", disse ao Haaretz uma testemunha que se identificou como Avi e ajudou a socorrer os feridos.
Outra testemunha descreveu que um grande número de pessoas foi empurrado para o mesmo canto conforme o tumulto se iniciava. "Eu senti que estava prestes a morrer", disse.
Testemunhas disseram que perceberam que pessoas acabaram asfixiadas ou pisoteadas. "Achamos que talvez houvesse um alerta (de bomba) sobre um pacote suspeito", disse uma delas à agência Reuters. "Ninguém imaginava que isso pudesse acontecer aqui. Alegria se tornou luto, uma grande luz se tornou uma escuridão profunda", afirmou um peregrino que se identificou como Yitzhak à emissora local <i>Canal 12</i>.
O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu afirmou que a tragédia é uma das catástrofes mais graves da história do país. "A catástrofe do Monte Meron é uma das mais graves a atingir o Estado de Israel", afirmou em uma mensagem no Twitter o chefe de Governo, que visitou nesta sexta-feira (30) o local e decretou um dia de luto nacional no domingo.
A festa no Monte Meron foi proibida no ano passado por causa das restrições impostas pelas autoridades para evitar a propagação do coronavírus. Neste ano, as autoridades permitiram a presença de dez mil pessoas na área do túmulo, mas, segundo os organizadores, em todo o país foram fretados mais de 650 ônibus, o que representa pelo menos 30 mil pessoas. A imprensa local calculou o fluxo em 100 mil pessoas, mas o número não foi confirmado pelas autoridades. Em 2019, um ano antes da pandemia que provocou o cancelamento da peregrinação em 2020, os organizadores calcularam que 250 mil pessoas compareceram ao local. (Com agências internacionais).