Itália isola 16 milhões por coronavírus; quarentena afeta até 90 mil brasileiros

A Itália decretou neste domingo, 8, quarentena obrigatória na região da Lombardia e em 14 províncias do norte por causa do novo coronavírus. A medida atinge cidades como Milão, capital financeira do país, e Veneza e cerca de 16 milhões de pessoas – cerca de um quarto da população local. O Itamaraty estima que entre 70 mil e 90 mil brasileiros vivam na área isolada. O bloqueio, previsto para durar até 3 de abril, é a medida mais drástica desde a restrição de acesso na região chinesa de Wuhan, onde foram registrados os primeiros casos da doença.

Em apenas 24 horas, o número de mortos pelo coronavírus aumentou 57% na Itália, chegando a 366. O total de infectados saltou para 7.375, o que faz o país ser o segundo com mais registros, atrás apenas da China. Com a quarentena, as pessoas só poderão entrar ou sair da região se provarem motivos de trabalho ou de saúde.

Além do isolamento, o governo italiano determinou o fechamento de escolas, ginásios, museus, cinemas, piscinas e clubes noturnos, entre outros espaços públicos da região. Restaurantes e bares poderão funcionar de 6 horas da manhã às 6 horas da tarde e apenas se garantirem distância de pelo menos um metro entre os clientes. Jogos de futebol foram disputados com portas fechadas e já há pressão para suspender o campeonato.

O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, chamou as medidas de "rigorosas", mas necessárias para conter o surto e aliviar a pressão sobre a rede de saúde. Autoridades da Lombardia já haviam falado de hospitais à beira do colapso. Diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, disse que foram "passos corajosos".

A companhia Alitalia anunciou suspensão de voos ao exterior de Malpensa, principal aeroporto internacional da região. Como a lei começou no domingo, havia confusão sobre como afeta a indústria e a cadeia de abastecimento.

Veneza, que recebe milhões de turistas por ano, estava irreconhecível, com pouca gente na rua. "É triste", disse a guia turística Rosanna Giannotti, de 73 anos. "Já tivemos outros problemas. Mas essa parece a maior crise que eu já vi."

<b>Brasileiros</b>

Morador de Milão, o arquiteto Gustavo Minosso, de 39 anos, diz ter mais receio sobre o impacto da quarentena na economia do que medo de ser infectado pela doença. "Tem um clima de pânico em parte da população. Hoje (domingo) invadiram os supermercados mais uma vez", contou ele, que vive há 13 anos na cidade. "Se a situação continuar assim por muito tempo vai ser trágica para a economia."

No domingo, ao dar uma volta por Milão, ele viu ruas desertas. Apesar da restrição, Minosso disse saber de movimentação para fora da cidade. "Muita gente de outras regiões está indo embora com medo de ficar bloqueada aqui. Apesar da decisão do governo, as pessoas estão conseguindo sair, porque as autoridades ainda estão organizando com vão fechar as fronteiras."

Neste domingo, durante o dia, ainda não havia orientação especial para a área de fronteira entre Itália e Suíça, segundo a mídia local. No primeiro dia, a sinalização é de que a imposição de medidas não seria tão drástica quanto na China, onde havia forte controle militar na saída da região de Wuhan e cerca de 60 milhões de pessoas ficaram isoladas. Mesmo com o rígido sistema chinês, estima-se que cinco milhões dos 11 milhões de habitantes de Wuhan deixaram a cidade antes do cerco.

"Estamos curiosos para ver como será. Não é como na China, em que não podiam sair de casa. Podemos circular, só estamos isolados no Estado. É uma medida mais para conscientizar a população de que temos de ficar no Estado. Difícil controlar 100% das pessoas", opina o chef Gustavo Lima, de 23 anos. Ele está desde quinta em casa , porque o hotel onde trabalha está quase sem hóspedes.

<b>Resgate</b>

O governo brasileiro ainda não tem posição sobre a eventual possibilidade de resgatar brasileiros que manifestarem interesse de sair da Itália, como foi feito com os cidadãos do País que estavam em Wuhan, na China, epicentro doo surto. Dos brasileiros em quarentena, de 40 mil a 60 mil estão na Lombardia, área mais afetada. Mas o Itamaraty ressalta que são estimativas, pois brasileiros não têm obrigação de registro no consulado.

A avaliação no governo, segundo apurou p jornal <b>O Estado de S. Paulo</b>, é que a situação é distinta, especialmente pelo alto número de brasileiros na Itália. A recomendação tem sido seguir as orientações do governo italiano sobre o tema.

O chef Gustavo Lima, de 23 anos, que vive em Milão, tentou deixar a região antes do bloqueio. "Antes de decretarem o isolamento, pensei em viajar. Liguei para um amigo que mora na Puglia (sul da Itália), mas ele não me deixou ir", conta ele. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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