Estadão

Itália: Draghi entrega renúncia e Mattarella pede que ele fique provisoriamente

O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, apresentou um novo pedido de renúncia nesta quinta-feira, 21, um dia após perder o apoio de seus principais aliados na ampla coalizão de governo na Itália. É o segundo pedido de renúncia apresentado por Draghi ao presidente Sergio Mattarella em duas semanas.

O premiê apresentou a renúncia ao presidente durante uma reunião matinal no Palácio do Quirinale. Mattarella, que rejeitou uma oferta de renúncia semelhante na semana passada, "tomou nota" desta vez e pediu ao governo de Draghi que permanecesse de forma interina, disse o gabinete do presidente.

O governo de unidade nacional de Draghi implodiu de forma definitiva na quarta-feira, 20, depois que integrantes da coalizão de governo rejeitaram o apelo do premiê para renovar a aliança até o fim do mandato natural da legislatura.

Em vez disso, os partidos de direita como o Forza Italia e a Liga, além do antissistema Movimento 5 Estrelas, boicotaram um voto de confiança no Senado, em um sinal claro de que o governo de unidade nacional chegou ao fim.

"Obrigado por todo o trabalho feito juntos neste período", disse Draghi à Câmara dos Deputados antes de ir ver Mattarella. Claramente comovido pelos aplausos, ele repetiu uma piada de que até os chefes dos bancos centrais têm coração.

<b>Crise</b>

Jornais italianos na quinta-feira se uniram em sua indignação com o fim do governo, já que a Itália está lidando com a inflação crescente e com uma crise de custos de energia, os efeitos da guerra na Ucrânia e reformas pendentes necessárias para garantir o restante dos 200 bilhões de euros da UE em fundos de recuperação.

"Vergonha", titulava <i>La Stampa</i> na primeira página. "Itália traída", disse La Repubblica. "Adeus ao governo de Draghi", disse o <i>Corriere della Sera</i>.

Mattarella recorreu ao ex-chefe do Banco Central Europeu – conhecido como "Super Mario" por sua atuação no órgão europeu – para tirar a Itália de uma crise aguda no ano passado, durante a pandemia da covid-19, para lançar as bases de uma recuperação.

Mas o Movimento 5 Estrelas, partido mais votado nas eleições nacionais de 2018, demonstrava irritação há meses porque algumas de suas prioridades, como renda básica e salário mínimo, estavam sendo ignoradas. Na semana passada, a legenda boicotou um voto de confiança vinculado a um projeto de lei destinado a ajudar os italianos a enfrentar a crise, levando Draghi a oferecer sua renúncia pela primeira vez.

Mattarella rejeitou o primeiro pedido e solicitou a Draghi que voltasse ao Parlamento para retomar negociações com os parlamentares. Ele fez isso na quarta-feira ao apelar aos líderes do partido para ouvir os pedidos de unidade.

"Vocês não precisam me dar a resposta. Vocês têm que dar resposta a todos os italianos", disse ele aos legisladores.

Embora os próximos passos não sejam claros, o resultado sugeriu que Mattarella poderia dissolver o Parlamento após um período de consultas, abrindo caminho para uma eleição antecipada no final de setembro ou início de outubro. O mandato de cinco anos da legislatura deveria expirar em 2023.

Mattarella deve se reunir com os presidentes das Câmaras Alta e Baixa do Parlamento ainda nesta quinta-feira, disse seu gabinete. Tais consultas geralmente precedem uma declaração pública de Mattarella sobre suas intenções.

Pesquisas de opinião indicaram porcentagens iguais para o Partido Democrata de centro-esquerda e o partido de direita Irmãos da Itália, que permaneceu na oposição à coalizão de Draghi.

O líder democrata Enrico Letta ficou furioso com o resultado, dizendo que o Parlamento havia traído a Itália e instando os italianos a responder nas urnas. "Deixe os italianos mostrarem na votação que são mais inteligentes que seus representantes", tuitou.

O Irmãos da Itália há muito são aliados da Forza Italia, de centro-direita, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi e da Liga de Matteo Salvini, sugerindo que uma aliança de centro-direita provavelmente prevaleceria em qualquer eleição e impulsionaria a líder da sigla, Giorgia Meloni, que busca eleições antecipadas desde antes do início da crise. "A vontade do povo se expressa de uma forma: votando. Vamos devolver esperança e força à Itália", disse ela. Fonte: Associated Press.

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