Um dos principais líderes da chamada “bancada ética” do Senado, Demóstenes Torres, sem partido desde que foi flagrado em escutas pela Polícia Federal em situações que sugerem o uso do cargo em benefício do suposto esquema criminoso comandado por Carlinhos Cachoeira, foi cassado nesta quarta-feira. O ex-líder do DEM ficará inelegível até 2027 (oito após o término da legislatura para o qual foi eleito), quando terá 66 anos.
Graças aos votos de 56 colegas que seguiram a orientação do relator do processo, o Senado Federal – de uma forma míope, é verdade – sente-se com a alma lavada. Passa à opinião pública a impressão de dever cumprida. Quem falta com o decoro parlamentar não pode se enfileiras com nomes como José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor de Mello, apenas alguns senadores que ocupam, por força do voto, cadeiras na mais importante Casa de Leis do país. É verdade também que 24 pares – 19 que votaram contra e cinco que se abstiveram – ficaram ao lado de Demóstenes até o último instante, considerando-o apto para o cargo.
Até hoje o Senado só havia cassado o mandato de Luiz Estevão (DF), em 2000, no escândalo de desvio de recursos das obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Fora ele, todos os processos que bateram no conselho de ética e no plenário naufragaram. De uma forma ou outra, os nobres parlamentares sempre se safaram de punições mais rígidas, graças ao espírito corporativista que prevalece sempre que um dos iguais fica sob ameaça. Ano passado, a Câmara dos Deputados, por exemplo, livrou a colega Jaquelina Roriz da cassação apesar de uma série de evidências de falta de decoro, inclusive com imagens e gravações mais do que comprometedoras.
Desta forma, para que o Senado cumpra realmente a dura missão de limpar não só a imagem mas principalmente sua essência seria necessário uma depuração muito maior de quem merece estar lá de quem precisaria ser expurgado. Aliás, isso precisaria começar pelas principais cabeças, algo mais do que improvável. Impossível.