A iniciativa Glam (sigla em inglês para “Galerias, Bibliotecas, Arquivos e Museus”), da Wikipédia, publicou o acervo de mais de 100 instituições em todos os continentes. No Brasil, passaram a ilustrar verbetes da Wikipédia mais de 500 imagens e documentos do Arquivo Nacional, como a Lei Áurea (reproduzida nesta página), as Constituições do País e os Atos Institucionais da ditadura militar. “Isso muda completamente a relação do cidadão com a documentação”, diz à reportagem o diretor-geral substituto do órgão, Diego Barbosa.
Nicolas Maia é um dos editores voluntários da Wikipédia e acredita na difusão de cultura como principal motivação: “É excelente tanto para os leitores quanto para as instituições. De que adianta arte e conhecimento se estão longe do público?”.
O coordenador do projeto (que pode ser acessado no link http://bit.ly/2iDmYwU), João Alexandre Peschanski, informa que a licença com a qual o Glam trabalha permite o remix das obras. “Há um universo rico de apropriação desse conteúdo. Uma coisa é ter um quadro protegido por barreiras econômicas e simbólicas, e outra é permitir que se faça dentro do limite da lei o que se quiser com a obra.”
Em fevereiro, o Metropolitan, de Nova York, tornou disponível sua coleção digitalizada que estava em domínio público, cerca de 375 mil imagens. O Museu do Ipiranga cedeu quase 200 pinturas de Benedito Calixto, Tarsila do Amaral, Pedro Américo e outros. O Château de Versailles, na França; o Museo Galileo, na Itália; o National Museum de Nova Délhi, na Índia; a National Library, de Israel; e o Museu de Arte Popular, do México são alguns dos que aderiram ao Glam. Já houve conversas com o Itaú Cultural e o Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura de SP, segundo Peschanski. Mas existe o interesse de ampliar esse rol: “Quanto mais instituições, melhor”.
“As plataformas digitais permitem e exigem isso. Desperta a curiosidade, porque nada substitui olhar uma pintura ao vivo”, reflete a professora Solange Ferraz de Lima, diretora do Museu do Ipiranga. Ela lembra que as obras já estão na internet, mas agora têm metadados para impedir sua descontextualização.
“A indústria cultural tem dificuldade de absorver, mas há uma tendência de se disponibilizar os acervos digitalmente”, avalia Peschanski. “A questão que se coloca no Brasil é a escassez de acervos digitalizados, pois o processo envolve custos. No mundo desenvolvido, até coleções privadas estão sendo liberadas. Ainda estamos atrasados, mas as instituições públicas passam por uma discussão ampla de transparência”, conclui.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.