Desde que a ofensiva militar russa invadiu a Ucrânia, as jogadoras brasileiras Lidiane Oliveira, Kedma Laryssa e Gabriela Zidoi querem deixar o país, mas não conseguiam. Elas são atletas do Kryvbas Women, time da cidade de Kryvyi Rih, no sudoeste do país e a 400km da capital Kiev, e conseguiram embarcar nesta sexta-feira em um trem lotado para Lviv, cidade a duas horas de carro da fronteira com a Polônia e por onde outros brasileiros também têm feito a travessia.
"São muitas pessoas tentando sair, crianças, mulheres… É desesperador tudo isso. Pessoas que têm que largar tudo e recomeçar em outro lugar pois não sabem o dia de amanhã", publicou Lidiane no Instagram.
As brasileiras viajaram acompanhadas de outras quatro atletas estrangeiras. Elas estavam abrigadas em um hotel e recebiam orientações sobre como retornar ao Brasil com segurança. Antes da invasão militar russa, Lidiane estava negociando sua rescisão de contrato com o clube e tinha voo previsto para retornar a São Paulo, mas não pôde deixar o país por causa da guerra.
"A gente não sabe o que fazer. Vivemos dias e noites de incertezas. O clube não tem deixado faltar nada e diz para a gente permanecer aqui por ser mais seguro e pela região não ter sofrido com muitos ataques", contou Lidiane ao Estadão na quinta-feira, antes da viagem de trem. Ela chegou à Ucrânia em agosto do ano passado, mas já tinha passagem pelo futebol local.
As jogadoras precisaram mudar do hotel onde estavam hospedadas depois que ouviram barulhos de bombas no antigo alojamento, que fica localizado ao lado de uma base militar.
Eram duas as opções para deixar a cidade de Kryvyi Rih, mas a logística era complicada, segundo Lidiane. A alternativa escolhida foi se deslocar até uma estação de trem, distante a uma hora de carro do hotel onde estavam. A outra opção seria viajar até a Moldávia, mas o trajeto de oito horas é considerado perigoso.
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), conterrâneo de Kedma, acionou o Governo Federal na quinta-feira, através do Ministério das Relações Exteriores, solicitando ações para o retorno das três jogadoras.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou na terça-feira que abriu dois postos de atendimento consular para prestar ajuda aos brasileiros que buscam deixar a Ucrânia. Um deles ficará na cidade ucraniana de Lviv, próxima à fronteira com a Polônia que tem sido adotada como rota de fuga; e o outro em Chisinau, capital da Moldávia, para facilitar o suporte a brasileiros que tentam a saída pela Romênia. "Os postos de atendimento em Lviv e Chisinau complementam as medidas já em curso de apoio aos brasileiros, de confecção de documentos de viagem e de retirada, ordenada e segura, de nacionais do território ucraniano", declarou em nota o Itamaraty.
Muitos atletas brasileiros já conseguiram deixar a Ucrânia, mas outros ainda enfrentam problemas para obter uma rota de fuga segura. Um grupo de brasileiros que joga futsal no país, formado por Cláudio Garcia, Everton Florêncio e Daniel da Rosa, está refugiado em um apartamento em Kherson, cidade tomada pelos russos na quarta-feira, e onde atuam pelo clube Prodexim. Sem conseguir deixar o local antes do início da guerra, o grupo se esconde num quarto de hotel à espera de ajuda para sair da zona de conflito.
As delegações dos dois países se reuniram nesta quinta-feira para uma segunda rodada de negociações sobre um possível cessar-fogo. Rússia e Ucrânia concordaram sobre a necessidade de um corredor humanitário para a saída de civis das cidades em guerra, segundo afirmaram os negociadores de ambos países após o encontro diplomático desta quinta-feira, 3. O acordo envolve um possível cessar-fogo durante as operações de retirada.
O encontro foi o segundo realizado entre os dois países para discutir a invasão russa na Ucrânia. Os resultados obtidos não eram os esperados pela Ucrânia – que exige o cessar-fogo imediato e a retirada das tropas -, mas foram mais substanciais que o encontro de segunda-feira. Os dois países concordaram numa terceira rodada de negociações, afirmam os negociadores.