O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi acusado nesta quinta-feira, 20, por deputados de seu partido de chantagear os parlamentares que pedem sua renúncia. William Wragg, vice-presidente da comissão do Partido Conservador, encarregada de lançar uma moção de censura, disse que recebeu várias denúncias de intimidação.
"Nos últimos dias, muitos membros do Parlamento sofreram pressões e intimidações por parte de integrantes do governo por seu desejo declarado ou suposto de pedir um voto de desconfiança da liderança do primeiro-ministro", afirmou. Segundo ele, algumas abordagens seriam o equivalente a "chantagem".
"É claro que é dever do gabinete garantir os interesses do governo no Parlamento. No entanto, não é sua função violar o código ministerial e ameaçar retirar financiamento de parlamentares", disse Wragg. "Além disso, são inaceitáveis os relatos que recebi, de que funcionários do governo, assessores especiais e ministros vêm incentivando a publicação de histórias na imprensa para constranger aqueles que não demonstraram confiança no primeiro-ministro."
<b>Dissidente</b>
Reiterando a denúncia de Wragg, o deputado Christian Wakeford disse que líderes do Partido Conservador ameaçaram retirar o financiamento para a construção de um novo colégio em sua região, no norte da Inglaterra, se ele não parasse de criticar Johnson.
As declarações de Wakeford foram colocadas em dúvida ontem por alguns conservadores, já que o deputado, na quarta-feira, 19, desertou para o Partido Trabalhista, o maior da oposição no Reino Unido. De acordo com Wakeford, as ameaças o fizeram questionar seu lugar dentro do Partido Conservador.
Assediado por "fogo amigo", Johnson – que já foi chamado de "morto ambulante" por Roger Gale, um veterano deputado conservador – ignorou as denúncias de chantagem durante visita a um centro de diagnóstico médico no sudoeste da Inglaterra. "Não vi nenhuma evidência que corrobore qualquer uma dessas alegações", disse o premiê, embora tenha acrescentado que investigará as denúncias.
As acusações são a última bomba a cair no colo de Johnson, acusado pela oposição de mentir para o Parlamento sobre as festas organizadas na sede do governo, em Downing Street, durante o período de confinamento da pandemia.
Embora ele tenha se desculpado, na semana passada, Johnson negou ter infringido qualquer regra e pediu a todos que aguardassem as conclusões de uma investigação interna, conduzida pela funcionária de alto escalão Sue Gray, que pode ser publicada nos próximos dias.
<b>Pressão</b>
Diversos conservadores, no entanto, já perderam a paciência com o premiê e se disseram dispostos a apoiar uma moção de censura. Mas, para que o processo siga adiante, 54 deputados do partido – 15% dos 360 parlamentares da bancada – precisam apoiar a medida. De acordo com estimativas da imprensa britânica, quase 60 já criticaram publicamente o premiê, mas apenas 30 demonstraram publicamente disposição em derrubá-lo.
Se sobreviver à moção de censura, Johnson estaria imune a uma nova votação pelos próximos 12 meses. No entanto, de acordo com o jornal Guardian, a liderança do Partido Conservador analisa uma mudança de regra para encurtar esse período para 6 meses.
No momento em que pesquisas dão ao Partido Trabalhista uma rara vantagem de mais de 10 pontos porcentuais, a deserção de Wakeford e as críticas de veteranos deputados conservadores assustaram alguns aliados de Johnson. Ontem, o secretário de Saúde, Sajid Javid, admitiu o desconforto com o pedido de renúncia feito por David Davis, ex-ministro do governo, na quarta-feira.
"Em nome de Deus, vá embora", disse Davis ao premiê durante sessão do Parlamento. Javid reconheceu que o momento é delicado. "A declaração foi prejudicial, é claro. Preferia que ele não tivesse dito algo assim", afirmou. "Mas o primeiro-ministro foi ao Parlamento e pediu desculpas."
<b>Medidas</b>
Tentando recuperar apoio político, Johnson anunciou, na quarta-feira, o levantamento de várias restrições impostas na Inglaterra contra a variante Ômicron – cuja onda está diminuindo no país. De acordo com o premiê, o teletrabalho será flexibilizado e as máscaras não serão mais obrigatórias, assim como o passaporte sanitário para acesso a grandes eventos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>