Alguém pode duvidar da necessidade de formação adequada para o jornalista, profissional que atinge inúmeras pessoas, com seu trabalho, num único dia, sempre tratando de assuntos essenciais a qualquer cidadão, como a política, a economia, os esportes, as artes etc?
Há espaço mais natural para a obtenção desta formação que o da universidade?
No entanto, foi abolida, no Brasil, a exigência de formação acadêmica para o jornalista. E, ninguém mais parece querer reivindicá-la. Uma pena!
Assim, merecem ser lembrados aqueles sortudos que puderam desfrutar de um período existencial enriquecedor e transformador dentro da academia, antes do ingresso no mercado de trabalho jornalístico. Lembremos deles, através da recuperação de uma das questões que, na época, lhes foram colocadas em sala de aula. Como a contida nestas indagações: jornais e revistas oferecem a seus leitores a fiel reprodução da realidade, através dos textos publicados? Ou só uma realidade parcialmente reconstruída? Ou, ainda, uma supra-realidade, desconectada dos contextos nos quais nascem aqueles textos?
Um teórico de Comunicação Social, José Marques de Melo, no livro “A opinião no jornalismo brasileiro”, admitia a existência de “relatos escritos com a intenção de reproduzir o real”. Para ele, diferentes dos “relatos escritos com a intenção de ler o real”.
Segundo Melo, existiria, então, gêneros jornalísticos estruturados a partir de um referencial exterior. Neles, a expressão verbal dos jornalistas dependeria diretamente da eclosão e da evolução dos acontecimentos, assim como da relação que eles, jornalistas, estabelecessem com os protagonistas de tais acontecimentos. Tais gêneros Melo classificou como informativos.
Outra autora, Samira Chalhub questionou tal possibilidade de a linguagem, oral ou escrita, reproduzir o real, na obra “Funções da linguagem”.
De acordo com Samira, a suposição de que a linguagem denotativa referencial, como a do Jornalismo, reflete o mundo real se baseia em outra suposição, a de existir transparência, equivalência, colagem entre um nome e a coisa que ele designa. Será, assim, tão simples? ela indagou, com evidente ceticismo.
A divergência foi encerrada por Cremilda Medina, em “Notícia: um produto à venda”, em desfavor de Melo. Ela escreveu: uma prova de que a notícia, do ponto de vista do relato, não é mais o próprio fato, imparcialmente relatado, são as próprias variações de narrativa de jornal para jornal, quando eles cobrem os mesmos acontecimentos.
Esta questão, para muitas pessoas, atualmente, talvez parecesse um preciosismo, algo intelectualmente refinado, mas inútil. Não era. Porque, na verdade, obrigava o estudante a assumir um compromisso essencial: o de não enganar deliberadamente seu futuro leitor. Tal comprometimento dele, hoje, certamente, o impediria de atuar num gabinete de ódio, produtor de fake news.
(Ilustração: O Jornalismo já era oferecido, através de periódicos comprados em bancas, no campus do Vassar College, como parte da formação acadêmica, à elite feminina de New York, em 1941).