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Jornalista analisa Paul McCartney segundo cada faixa gravada depois dos Beatles

A vida de Paul McCartney, ao lado das pegadas deixadas por Michael Jackson e Marilyn Monroe, é dos terrenos mais revisitados por biógrafos de todo o mundo, tanto pela grandeza de um personagem que segue produzindo fatos biografáveis quanto pela quase sempre segurança de retorno comercial. A cada ano, ao menos uma biografia ou projeto biográfico de Paul ou dos Beatles chega às lojas, o que torna cada vez mais difícil o próximo trabalho. Há poucos meses, o londrino Phillip Norman, que já lançou livro dos Beatles, de John Lennon e de Elton John, voltou ao assunto com Paul McCartney – A Biografia, um tijolaço de quase 800 páginas que transpassam novo e velho testamento do músico, o antes e o depois dos Beatles.

Paul, mais uma vez, é esmiuçado. E agora, por um brasileiro. O jornalista Claudio Dirani, que já publicou em 2005 o trabalho Paul McCartney – Todos os Segredos da Carreira Solo, estuda a trajetória do beatle por sua obra. Masters – Paul McCartney em Discos e Canções (Sonora Editora) segue a sequência cronológica de todos os discos de Paul lançados a partir de sua saída dos Beatles, em 1970, com um poder de análise de quem caminha com segurança sobre terreno minado.

As informações inéditas são cada vez mais raras, mas a reflexão sobre Paul depois de tantas análises vai ganhando profundidade. Das personalidades mais desafiadoras da música pop desde sua invenção, nos anos 1960, o beatle ganha, pelas mãos de Dirani, um texto envolvente que cruza informações de fontes das mais diversas, revistas, jornais e outras biografias, com entrevistas feitas para o projeto. São músicos que tocam ou tocaram com Paul, engenheiros de som e produtores. Fontes primárias ou muito pouco procuradas.

O livro abre com uma entrevista com o próprio Paul, feita em 2014, na ocasião de uma das vindas do astro ao Brasil, e transmitida pela Rádio Alpha FM. Sim, os ouvintes de uma emissora de rádio podem não ter acreditado, mas Paul concedeu uma entrevista a eles depois de um trabalho de insistência jornalística de Dirani com suas fontes. Não se trata de uma conversa reveladora, longe disso, é mais uma abordagem de fã, mas há momentos interessantes, como quando Dirani pergunta se Paul não pensa em colocar em seu repertório dos shows mais músicas dos trabalhos Venus and Mars e Wings at the Speed of Sound (que haviam acabado de ser relançados em projetos especiais). “Você sabe que é muito difícil colocar tudo no setlist. Nós tocamos por três horas e deixamos de fora muita coisa. Às vezes a gente muda algumas músicas… Na passagem de som – que é um show completamente diferente… Então, é impossível fazer tudo. O show duraria o quê? Duas semanas?”, diz o artista.

Assim, Paul, como muitos biografados, não é a melhor fonte para sua biografia. A não ser que se prestasse a passar dias e dias à frente de seu biógrafo. Como não deve mais fazer isso, resta a aventura de entendê-lo com a ajuda do tempo que se distancia dos fatos. Dirani faz a costura magistralmente, tão à vontade e seguro do assunto que seu texto fica leve e cheio de suingue. “Queria escrever de um modo que fosse divertido também para quem não é fã de Paul”, diz ele.

Dirani concorda com a tese, atestada por biógrafos como Phillip Norman, de que demorou ao menos três anos para que o beatle se restabelecesse do fim dos Beatles e lançasse um álbum à altura de sua criatividade. Os primeiros, McCartney, de 1970 (gravado enquanto os Beatles faziam seus últimos registros em estúdio); Ram, de 1971 (massacrado até pelo fogo amigo, à época não tão amigo assim, de Ringo Starr, que também estava sendo processado por Paul durante a dissolução dos negócios); Wild Life (novembro de 1971); e Red Rose Speedway (abril de 1973), não foram recebidos pela crítica com o mesma relevância de, enfim, Band on the Run, de 1973. O tempo também tem feito seu trabalho e reavaliado essa produção, segundo o pesquisador. “Esses discos já estão sendo vistos de outra forma, apesar das críticas da época”, fala o autor.

Fica impossível não pedir a Dirani a lista dos melhores álbuns de Paul, segundo sua avaliação. Ele vai por décadas. Nos anos 70: Band on the Run. Nos 80: Flowers in the Dirt. 90: Flaming Pie. E nos 2000: Chaos and Creation in the Backyard. E outra tentadora questão a Dirani, publicada no dia em que Paul vai tocar mais uma vez em São Paulo, neste domingo, 15, no Allianz Parque: por que, afinal, ele não para de fazer shows, mesmo aos 75 anos? “É um conjunto de fatores”, ele diz. “Paul gosta de ser pop. Foi o último a concordar que a banda deveria parar de fazer shows ao vivo e quem mais resistiu para que o grupo não acabasse. Se pudesse, estaria com os Beatles até hoje. Ao mesmo tempo em que gosta de tocar – suas passagens de som têm 1h30 de duração – é bom lembrar que ele sofreu reveses financeiros sérios com a divórcio de Heather Mills, em 2008, um desfalque de £ 30 milhões.”

MASTERS – PAUL MCCARTNEY EM DISCOS E CANÇÕES
Autor: Claudio Dirani
Editora: Sonora (664 págs., R$ 89,90)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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