Cidades

Jornalista que atuou em Guarulhos ficou em situação de rua e agora escreve sobre os “invisíveis”

Capa do livro No País dos Invisíveis, de Alek Honse

Ex-empresário, graduado em jornalismo e pós-doutorado em filosofia. Viveu fora do Brasil e tem uma filha universitária. Nada disso impediu que Alek Honse, de 53 anos, que exerceu sua profissão em Guarulhos, fosse parar nas ruas durante a pandemia (embora já tenha conseguido um lar). Contudo, o olhar sensível, somada à habilidade da escrita, transformaram a nova experiências em obras publicadas e trabalhos sociais.

Alek escreveu quatro obras retratando a vida da população de rua, denominada por ele como “os invisíveis” – em alusão à falta de visibilidade dos setores para tal população. O lucro das vendas é revertido para custear o projeto que ganhou o mesmo nome e tem como objetivo transformar completamente a realidade dessas pessoas – 33 até o momento – uma transformação que vai além de um cobertor, um valor em dinheiro ou um prato de comida. “O projeto nasce de uma visão que tive de que os trabalhos assistenciais que são desenvolvidos por entidades e/ou grupos, prezam pela distribuição de alimentos, roupas e afins, que são importantes, mas não resolvem o problema, na verdade perpetuam o cidadão a essa condição”, explica Honse, que nasceu na Turquia e veio para o Brasil com os pais ainda criança.

“A dinâmica consiste em encontrar alguém que está nas ruas e que demonstra interesse em mudar sua situação. Após identificar o candidato uma colega psicóloga faz algumas visitas a ele em duas e horários alternados. Um dos princípios é de que o candidato não faça uso de drogas. Após essa etapa ele é convidado a ocupar um quarto onde dispõe de cama, armário, fogão e geladeira. Um advogado coloca sua documentação em ordem. Outro amigo, dono de uma agência de empregos de baixa qualificação elabora seu currículo e oferta-lhe vagas de empregos condizente com suas habilidades e uma outra pessoa faz a doação de uma cesta básica mensal”, complementa.

“O prazo de permanência no projeto é de seis meses. Tempo que entendo ser o suficiente para que o candidato possa se reerguer física, psicológica e materialmente. Dessa maneira ele consegue alugar seu próprio espaço e retomar sua vida”, conclui o autor.
Alek, que também superou um câncer no estômago e relata que uma ex-companheira – aproveitando-se de sua ausência a trabalho durante a Copa do Mundo da Rússia em 2018 – vendeu um imóvel que tinha. “Quando retornei não tinha mais casa. Com o início da Pandemia meus contratos de trabalho se findaram. Sem recursos fui para as ruas”, argumenta.

O jornalista, que narra sua trajetória em três romances: Mariana um mosaico de Canções e lembranças, Dani um mosaico de Canções em volta do fogo e Nani e Sef um mosaico de Canções de amor, também conta histórias de pessoas que conheceu nas ruas. São quatro obras: Alek no País dos Invisíveis, Crônicas do País dos Invisíveis, Melancolia e Fratura Exposta.

Alek lamenta que, apesar da transformação em 33 vidas, a falta de doações tem aproximado o projeto do fim. Os livros custeiam parte do necessário, porém os valores não são suficientes. O autor recebe doações no link https://apoia.se/projetoinvisiveis. Para quem quiser acompanhar seu trabalho, basta curtir e seguir sua página no Facebook. https://www.facebook.com/alekhonseescritor/

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