Dia desses um amigo comentou comigo que discordava de algumas posições que manifesto publicamente. Acha um absurdo, por exemplo, eu declarar que sou corinthiano. “Como um editor de jornal pode assumir a preferência por um time?”, bradava entre um copo e outro de cerveja. Semana passada, neste espaço, fiz um texto sobre religião, contando um pouco sobre minha relação com a igreja católica. Com certeza, mais uma vez, fiz gente cair da cadeira. “Como pode? Um jornalista com preferência religiosa?”. Simples. Jornalista também é gente. Tem virtudes, defeitos, gostos. Não somos seres extraterrestres, alheios ao mundo. O que muitos não entendem é que para ser um profissional honesto e independente é necessário que saibamos separar o trabalho do pessoal. É a velha máxima: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Pode até parecer estranho, mas um jornalista corinthiano pode sim, sem problema algum, dar uma manchete sobre a vitória do Palmeiras sobre seu time. Ali, ele é profissional e não torcedor. Também não deixará de publicar casos de pedofilia envolvendo padres da igreja católica, aquela mesma em que ele vai todo santo domingo. Isso vale para tudo. Ou alguém imagina que nós não podemos ter nossas preferências pessoais? Ora, em tudo na vida temos posições definidas. Sou homem, gosto de mulher. Nada contra aqueles que preferem pessoas do mesmo sexo. Sou consumidor, tenho um carro Chevrolet hoje. Amanhã, pode ser Volkswagen. Na hora da cervejinha, prefiro Skol ou Brahma. Tenho aversão a Kaiser, Schin e outras por aí. No supermercado, opto pela marca x em detrimento da y. E isso se repete em todos os momentos de nossas vidas. O problema, para um jornalista, é quando ele se confunde com sua própria existência. Ou se coloca acima de tudo, como se fosse um ser sobrenatural. É incrível, mas é fácil achar esse tipo de espécime por aí. Esses, creio, não conseguem separar o fato de torcerem para o Santos, por exemplo. As manchetes de seu jornal sempre serão positivas para o time do Neymar, ignorando os maus resultados dos meninos da Vila. Por tudo isso, gosto de deixar claro algumas posições pessoais sem medo de ser feliz (nenhuma alusão ao slogan de um partido que se julgava sério décadas atrás). Aliás, a busca da felicidade é uma constante em nossas vidas. E não vou deixar de lado qualquer preferência pessoal. A isenção está acima disso. Graças a Deus. E viva o Timão. Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo No Twitter: @ZanonJr