Uma retrospectiva de 12 trabalhos inéditos é como o escultor José Resende descreve a mostra que apresenta até 14 de junho na Pinacoteca do Estado. Provocador, o artista recusa a exibição cronológica de uma trajetória de 50 anos de atividade escultórica – “não tem atestado de óbito aqui” – para revisitar, afirma, gestos e momentos de sua carreira por intermédio de novas peças e de trabalhos nunca antes mostrados em São Paulo – como as obras Senzala e Covo, destaques da exposição que ele realizou em 2011 no Museu de Arte Moderna do Rio.
José Resende, que já utilizou os mais variados materiais em suas criações – entre eles, o couro, o feltro, o gesso, o vidro, a madeira, o granito e a borracha -, opta pela monumentalidade em sua antologia ao exibir esculturas predominantemente metálicas, feitas de aço, cobre e ferro. Segundo o artista, o espaço do museu convocou a grande escala dos trabalhos escolhidos, conferindo a eles uma carga pública – entretanto, diferente das ruas. “Na Praça da Sé (onde colocou sua primeira obra em espaço público, em 1979), ainda estamos buscando o reconhecimento público que os mendigos buscam como cidadãos”, considera o escultor, que já realizou peças para o Rio, o Parque do Ibirapuera e para Porto Alegre.
O diálogo de suas obras com o edifício da Pinacoteca desencadeou, assim, a concepção da retrospectiva do artista paulistano, ele conta. Suas criações ocupam não apenas as principais salas do prédio, como o octógono do museu (que recebe Duas Vênus Deitadas, recriação de trabalho de 1998, e Politécnica) e um dos halls da instituição. “Discordo do termo site specific”, diz Resende sobre o conceito de criação específica de instalações para espaços. “É o lugar que se torna especial por causa da obra”, completa o artista, de 70 anos.
Elogiando a moderna reforma que o arquiteto Paulo Mendes da Rocha promoveu na década de 1990 na Pinacoteca, originalmente, neoclássica, o escultor, que cursou arquitetura nos anos 1960, começa o percurso de sua retrospectiva apresentando uma peça sob a passarela de entrada do museu. Apelidada de “Sorriso”, a escultura, na qual prevalece uma estrutura metálica que faz uma meia elipse, confere “aspecto poético” à certa solenidade do local. “É o olho do espectador que vai promovendo os nexos”, afirma Resende, destacando que devolve aos visitantes, assim, a “autoridade” que tanto se é dada aos curadores.
O tom provocador de José Resende está presente em seu discurso crítico, mas também é fortemente representado nas relações de tensão e de expansão exploradas ao longo de toda a exposição. A inédita Instrumento de Medição (2015), de 13 metros de comprimento, é uma sucessão de formas tubulares comprimidas por chapas metálicas, representa, materialmente, essa característica tão pulsante e presente na produção do artista. Já nas cinco salas expositivas, cada escultura, separadamente e na conversa com um trabalho vizinho, reforça essa condição.
Preocupado com a preservação de suas obras, algumas, monumentais, o escultor, um dos fundadores do Grupo Rex, em 1966, e da Escola Brasil, em 1970, conta que está se dedicando à criação de um instituto em São Paulo com seu nome.