A professora da rede pública de Pacaraima Gisele Soledad, de 43 anos, furou o bloqueio na fronteira do Brasil porque temia que o filho, que vive na cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén, fosse forçado a servir nas tropas leais ao presidente Nicolás Maduro.
Caliel Soledad, de 13 anos, pratica caratê e fala três idiomas (português, espanhol e inglês). Ele tem dupla nacionalidade, mas é alto e desperta desconfiança de que já possa ser integrado ao serviço militar. Segundo ela, vizinhos e amigos em Santa Elena de Uairén contaram que menores de idade foram levados pelas forças de segurança. A falta de informações fez com que a professora decidisse sair da casa onde mora no bairro Cielo Azul. “Eles estão recrutando menores, entrando nas casas à força. Ninguém sabe direito para onde levam”, disse Gisele. “Eu pensei: sabe de uma coisa, vou levar meu filho daqui.”
Gisele e Caliel atravessaram a mata na segunda-feira. Eles cruzaram em trilhas antes usadas por contrabandistas de cigarro, carnes e frutas. No caminho, encontraram militares de baixa patente da Guarda Nacional Bolivariana, que pediam comida.
O Exército tem uma milícia civil. No fim do ano passado, Maduro anunciou que os milicianos somavam 1,6 milhão de pessoas. Relatos de moradores da fronteira dão conta de que as tropas estariam sendo reforçadas por civis sem experiência.
Os militares promovem atualmente uma campanha de alistamento, que terminaria no domingo, mas foi prorrogada para acabar no dia 10 de março. Os oficiais seguem fiéis a Maduro, embora as deserções aumentem a cada dia. No Brasil, foram 12 casos desde o fechamento da fronteira, na Quinta-feira.
Eles reclamaram das condições de trabalho e relataram escassez de comida – o que não ocorre com oficiais mais elevados da hierarquia. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, disse nesta quarta-feira, 27, que está revisando as condições dos militares para fazer recomendações a Maduro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.