Estadão

Juiz da Lava Jato diz sofrer pressão para se declarar suspeito e deixar o cargo

O juiz Eduardo Fernando Appio, da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, rejeitou um pedido para afastá-lo de processos derivados da Operação Lava Jato.

Uma procuradora de Ponta Grossa, no interior do Paraná, entrou com a chamada petição de arguição de suspeição, instrumento usado para trocar o juiz da causa quando há desconfiança de parcialidade.

Em decisão neste sábado, 20, Appio disse ser vítima de uma narrativa leviana . Afirmou ainda que as acusações contra ele não passam de conjecturas, de caráter absolutamente genérico, desprovidas de qualquer lastro probatório .

"Os argumentos lançados pela Procuradora da República de Ponta de Grossa não apresentam fatos específicos que permitam aferir a suposta suspeição deste Julgador para análise do feito em questão", escreveu.

Juiz Eduardo Appio assumiu em fevereiro a 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, que no auge da Lava Jato era comandada pelo hoje senador Sérgio Moro. Fotos: Divulgação/Justiça Federal e JF Diorio/Estadão
A implosão do que restou da antiga Lava Jato

Entenda a cronologia da queda de braço que atravessa antigos expoentes da investigação, como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, e o juiz Eduardo Appio, novo responsável pelos processos remanescentes da operação em Curitiba

A decisão também afirma que a procuradora ignorou as regras mais comezinhas da urbanidade e civilidade entre as autoridades federais e difamou a memória do pai dele. Appio é filho do ex-deputado federal Francisco Appio (PP-RS), morto em novembro do ano passado, vítima de um AVC.

"Tudo na finalidade de pressionar este Juízo Federal, afrontando os sagrados princípios constitucionais do juiz natural e todas as garantias de independência funcional dos juízes", argumentou.

Desde que assumiu o acervo de processos da Lava Jato, Eduardo Appio deu uma guinada na 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba. Ele tem movimentado casos remanescentes que tramitavam em ritmo lento e passou a antagonizar com antigos nomes da operação, como o senador Sérgio Moro (União-PR) e o deputado cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

Desafeto dos artífices da Lava Jato, o juiz resgatou o capítulo Tacla Duran – ex-operador financeiro da Odebrecht que afirma ter sido alvo de extorsão da operação. O relato de Tacla Duran colocou sob pressão a força-tarefa que viveu uma etapa auspiciosa.

Eduardo Appio herdou os restos da antiga Lava Jato, ações penais oriundas do período em que a operação se multiplicou em 80 fases para prender doleiros, empreiteiros, lobistas e políticos. No seu auge, a Lava Jato abasteceu e impulsionou a cultura da delação premiada, método hoje sob questionamento de juristas e ministros legalistas.

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