Responsável pelas investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo, a delegada Bárbara Lomba afirmou em depoimento nesta segunda, 7, que provas do crime teriam sido queimadas no quintal da casa onde a família morava, em Pendotiba, Niterói.
Segundo Lomba, primeira testemunha ouvida no julgamento, os policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói, onde era lotada à época do crime, encontraram apenas cinzas no terreno da casa da família durante as buscas por pistas do assassinato.
Ao depor no primeiro dia do julgamento da ex-deputada e pastora evangélica Flordelis dos Santos de Souza, acusada de ter ordenado o assassinato do próprio marido, a policial também contou que os celulares da vítima, da ex-parlamentar e de Flávio dos Santos, filho biológico da ex-parlamentar, autor dos disparos contra Anderson, desapareceram.
Um dos advogados de defesa de Flordelis, Rodrigo Faucz, tentou contestar um aspecto da investigação da Polícia Civil, envolvendo as tentativas fracassadas de envenenar Anderson do Carmo. O defensor mostrou que, segundo o inquérito, a pastora fez pesquisas sobre venenos, na internet, em 2019, depois que, em 2018, o pastor fora internado em decorrência de tentativas de envenenamento.
Faucz disse que não faria sentido pesquisar sobre meios de envenenamento depois de supostamente já ter envenenado o alvo.
"Vai ver ela (Flordelis) queria envenenar mais alguém", ironizou Bárbara Lomba. Segundo ela, o fato de ter havido pesquisa posterior não invalida a acusação de envenenamento.
Apesar da afirmação da delegada, após o depoimento da policial o advogado de Flordelis demonstrou confiança na absolvição de seus clientes no caso.
"Não tem nada que acuse diretamente a Flordelis e os demais. O que eles (a acusação) têm são apenas achismos, indícios não comprovados. Com isso, vai ser muito difícil eles conseguirem provar a responsabilidade dos meus clientes. Inexiste prova, até porque não foram eles (que cometeram o crime)", afirmou.
A promotoria perguntou à ex-titular da especializada se Flordelis, ao depor na delegacia, teria relatado ter sido agredida pelo pastor. Segundo Bárbara, a ex-deputada disse que a relação com o marido era excelente. A ex-deputada teria dito que nunca sofreu nenhum tipo de intimidação.
<b>Acusações</b>
Vestida com uma camiseta branca, calça jeans, óculos e chinelos, Flordelis começou a ser julgada na manhã desta segunda-feira, 7, no Tribunal do Júri de Niterói, na região metropolitana do Rio. Denunciada como mandante do assassinato a tiros do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis é julgada ao lado de três filhos- dois adotivos e um biológico- e de uma neta. Todos são acusados de envolvimento no crime.
Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, responde pelos mesmos crimes de Marzy. Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada. André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis, foi denunciado pelo uso de documento falso e associação criminosa armada.
O julgamento é presidido pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3.ª Vara Criminal de Niterói., e deve se estender até a próxima quarta ou quinta-feira, segundo estimam advogados que atuam no processo. O julgamento começou às 11h, duas horas após o previsto inicialmente.
<b>Choro</b>
Flordelis e os filhos choraram ao ver parentes que acompanham o júri. A mãe da ex-deputada, Carmozina Mota, chegou a se aproximar do local onde ela e os outros réus aguardavam o início da sessão. Os advogados dos acusados fizeram uma barreira para evitar que eles fossem fotografados.
O julgamento começou com a leitura da denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Após a leitura, a delegada Bárbara Lomba depôs. Anderson do Carmo foi morto em 16 de junho de 2019. Foi baleado mais de trinta vezes, na garagem da casa onde morava com sua mulher, Flordelis.