Quando esteve em São Paulo para promover o futuro lançamento de Jurassic World: Reino Ameaçado – o filme estreia na quinta, 21, mas já está em pré-estreias pagas nos cinemas desde o dia 14; na época, não estava pronto -, o diretor espanhol J.A. (Juan Antonio) Bayona respondeu de cara uma pergunta essencial. Bryce Dallas Howard, como Claire Dearing, voltaria a usar saltos altos? Quem viu o primeiro filme da nova franquia, Jurassic World/O Mundo dos Dinossauros, não se esquece do conceito. Chris Pratt, como Owen, volta à ilha Nublar, que abriga o parque temático bancado pelo investidor internacional Masrani. Encontra a dra. Claire, cuja área de interesse são as pesquisas genéticas. Claire, em nenhum momento, dispensa o salto alto.
Não parece muito, mas o conceito do primeiro filme da nova franquia desenvolvida por Colin Trevorrow – ele produz o 2 – está todo aí. Uma ideia que remonta ao mestre Howard Hawks, a quem se devem alguns dos maiores westerns e filmes de aventuras do cinema. Um conceito clássico – é da natureza do homem enfrentar o perigo, defrontar-se com a natureza. Já a mulher, por se identificar com a natureza, aumenta os perigos do homem.
Trevorrow colocou saltos altos em Bryce Dallas justamente para fragilizá-la nas cenas de corrida, de ação. Jurassic World, em 2015, ia na contracorrente do empoderamento feminino que tomou a tela em 2017 com Mulher Maravilha. Uma mulher frágil precisa de um homem forte.
Chris Pratt e Bryce Dallas não apenas reproduziam modelos sociais, também os satirizavam, porque a aventura era impregnada de humor. De cara, em Reino Ameaçado, mal Bryce Dallas entra em cena, a câmera desce até seus pés. Ela permanece de salto alto. Na nova trama, sumiram os sobrinhos e Claire é chamada para ajudar numa emergência. A ilha está ameaçada por um vulcão que se tornou ativo, todos aqueles espécimes (clonados) de dinossauros estão ameaçados de extinção. O novo administrador chama Claire para ajudá-lo a localizar Blue, a líder do grupo. Para isso, ela precisa de Owen – Chris Pratt. Só que, em seguida, Claire vai trocar o salto alto pelo coturno, e isso vai fazer toda a diferença.
O Mundo dos Dinossauros era uma grande aventura. Com a entrada de Bayona, Reino Ameaçado sofre uma mutação, de gênero. Juan Antonio deve sua reputação a filmes como O Orfanato e A Monster Calls, lançado no Brasil como Sete Minutos Após a Meia-Noite. Seu estilo baseia-se na releitura do horror. E é o horror que ele traz agora para o universo de Jurassic World. “Confesso que fiquei surpreso quando Colin (Trevorrow) disse que me chamou para dirigir por causa de O Orfanato. Ele acrescentou que é um dos assustadores que viu, e a segunda parte do roteiro dele para Reino Ameaçado vira uma história de casa assombrada. Para mim, (Steven) Spielberg já havia feito do primeiro Jurassic Park um exemplo de suspense e horror. O que fiz foi incrementar o que ele já havia proposto na série.”
Desenha-se logo o conflito de Reino Ameaçado. O administrador do parque é um monstro que não está nem aí para a sobrevivência dos dinos. Se os salva na ilha é porque quer vender os espécimes que sobrarem para sua utilização militar, como máquinas de matar. Logo no começo, numa das primeiras cenas, Jeff Goldblum, um ícone da primeira trilogia, participa de uma audiência no Senado e, surpreendentemente, coloca-se a favor da extinção dos dinos. A natureza está dando a chance de corrigir o erro – a criação, por clonagem, dos dinos extintos no Big Bang. A pesquisa científica está em discussão e, mesmo com risco de spoiler, o que J.A Bayona quer agregar à nova trilogia, com o elemento de horror que lhe é caro, passa por uma personagem chave, a menina.
Com Nick e Claire, ela forma uma nova família, e essa família… “Se você prestar atenção, com horror ou não, a família está no centro de todos os meus filmes, em situações limites”, diz ele. “Mesmo que não seja sanguínea, essa família estabelece seus laços. Espero que ganhe o público.” As revelações no final levam a uma espécie de encruzilhada de Reino Ameaçado. “Encarei como se estivesse fazendo Jurassic 5, de volta ao original.” O filme não é tão bom como o anterior, que tinha mais humor, mas ao mudar o rumo da franquia, Bayona cria um paradigma interessante de ser seguido.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.