Estadão

Juro dos EUA vai cair, mas não voltar ao nível pós-crise de 2008, avalia Picchetti, do BC

A inflação americana eventualmente vai convergir para a meta e o Federal Reserve poderá cortar juros. Mas eles dificilmente vão voltar para o nível pré-crise de 2008, já que a taxa neutra de juros dos Estados Unidos cresceu e não deve retornar aos níveis anteriores. A avaliação é do diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Paulo Picchetti.

"Provavelmente aquela taxa de juros neutra de longo prazo que a gente viu nas várias estimativas não vai voltar, no cenário prospectivo que a gente vê à frente", disse Picchetti, em um webinar da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Você vai ter uma queda de taxa de juros, mas não para os níveis anteriores, pré-pandemia, que a gente viu naquele período de estagnação secular."

O diretor do BC explicou que o juro neutro americano parece ter avançado desde o fim da pandemia. Ele lembrou que houve um aumento relevante da dívida global que, combinado com o aumento dos juros e do custo da rolagem, tem efeitos sobre a taxa neutra.

"A projeção de pagamento de juros e, com isso, o crescimento da dívida, pelo próprio efeito da rolagem, faz parte do que é a dinâmica da taxa de juros de equilíbrio daqui para a frente", afirmou.

Ele lembrou que investimentos feitos em inteligência artificial devem levar a um impacto positivo sobre a produtividade, com efeito também sobre a taxa neutra de juros. Outro ponto, ele mencionou pouco antes, é que deve haver investimentos na transição energética, que também podem levar a algum aumento do juro neutro.

<b>Nem um, nem outro</b>

Picchetti,afirmou que, em sua avaliação, o corte de juros nos Estados Unidos deve ocorrer quando houver arrefecimento dos núcleos de inflação e desaceleração do nível de atividade.

"Por enquanto não vimos nem um, nem outro", pontuou.

Picchetti afirmou que os dados de intenção de compras dos empresários até começam a mostrar sinais de desaceleração da manufatura, mas que os serviços seguem fortes. Há ainda uma preocupação com o fiscal. "Ainda tem uma série de estímulos que estão fazendo efeito."

A perspectiva, afirmou, não tende a melhorar com as eleições. "Um candidato tem como bandeira o corte de impostos e outro, a continuidade do aumento de gastos."

<b>Brasil</b>

O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central ponderou que embora o juro real seja alto no Brasil, não é particularmente elevado em relação a pares.

O diretor frisou que o Brasil registra uma taxa neutra de juros alta e que por trás disso há uma preocupação grande com o cenário fiscal. "A percepção do mercado sobre o fiscal piorou no passado recente", disse em webinar promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

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