Em meio ao ciclo de alta acelerada da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa média de juros no crédito livre passou de 32,7% ao ano em outubro para 34,1% ao ano em novembro, informou nesta terça-feira, 28, o Banco Central. Em novembro de 2020, essa taxa estava em 26,4% ao ano. Com o resultado de novembro de 2021, a taxa média de juros no crédito livre acumulou alta de 8,6 pontos porcentuais nos 11 primeiros meses do ano.
Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre passou de 43,8% para 45,2% ao ano de outubro para novembro, enquanto para as pessoas jurídicas foi de 18,9% para 20,3%.
<b>Cheque especial</b>
Entre as principais linhas de crédito livre para a pessoa física, destaque para o cheque especial, cuja taxa passou de 128,2% ao ano para 129,6% ao ano de outubro para novembro. No crédito pessoal, a taxa passou de 35,4% para 36,3% ao ano.
Desde 2018, os bancos estão oferecendo um parcelamento para dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200. Em janeiro de 2020, o BC passou a aplicar uma limitação dos juros do cheque especial, em 8% ao mês (151,82% ao ano).
Além da limitação do juro, os dados atuais refletem uma revisão realizada na série histórica do BC. Os números passaram a considerar o fato de alguns bancos cobrarem juro no cheque especial apenas após dez dias de atraso no pagamento da fatura. Antes, era considerado todo o período de atraso. Esta mudança fez com que o nível do juro no cheque especial, na nova série histórica, fosse menor em anos anteriores.
<b>Veículos</b>
Os dados divulgados nesta terça pelo Banco Central mostraram ainda que, para aquisição de veículos, os juros foram de 24,8% ao ano em outubro para 27,5% em novembro.
A taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas (com recursos da poupança e do BNDES), foi de 23,1% ao ano em outubro para 24,3% ao ano em novembro. Em novembro de 2020, estava em 18,6%.
<b>ICC</b>
Já o Indicador de Custo de Crédito (ICC) subiu 0,4 ponto porcentual em novembro ante outubro, aos 18,4% ao ano. O porcentual reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas no mês, considerando todo o estoque de operações, dividido pelo próprio estoque.
Na prática, o indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.
<b>Spread</b>
O spread em operações de crédito apresentou elevação no último mês. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o spread bancário médio no crédito livre passou de 22,9 pontos porcentuais em outubro (revisados do número anterior, de 23,1 pontos) para 23,4 pontos porcentuais em novembro, informou nesta terça o Banco Central.
O spread médio da pessoa física no crédito livre passou de 33,8 para 34,2 pontos porcentuais no período. Para pessoa jurídica, o spread médio passou de 9,5 para 9,9 pontos porcentuais.
O spread é calculado com base na diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é efetivamente cobrado dos clientes finais (famílias e empresas) em operações de crédito.
O spread médio do crédito direcionado foi de 3,5 para 3,4 pontos porcentuais na passagem de outubro para novembro.
Já o spread médio no crédito total (livre e direcionado) foi de 15,2 para 15,6 pontos porcentuais no período.
<b>Inadimplência</b>
A taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos passou de 3,0% para 3,1% de outubro para novembro, informou o Banco Central. Desde julho, a taxa se mantinha em 3,00%.
Para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência permaneceu em 4,3% de um mês para o outro. No caso das empresas, também não houve alteração no período, seguindo em 1,6%.
A inadimplência do crédito direcionado (recursos da poupança e do BNDES) também seguiu em 1,2% em novembro como no mês anterior.
Já o dado que considera o crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência seguiu em 2,3%, mesma taxa vista desde maio.
<b>Endividamento</b>
O Banco Central apresentou nesta terça uma mudança na metodologia do endividamento e no comprometimento de renda das famílias. Com essa alteração, o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro aumentou em setembro, para 49,4%, de 48,7% em agosto.
Pela metodologia anterior, que será descontinuada, a taxa estava em 59,9% em agosto, recorde da série em vigor até então. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 30,6% em setembro, ante 30,1% do mês anterior – estaria em 37,0% em agosto pelo cálculo antigo.
O BC explicou que apresentou o conceito de Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF), uma nova medida de renda das famílias, que aprimora e substitui a medida de Massa Salarial Ampliada Disponível (MSAD), aproximando-se do conceito utilizado no Sistema de Contas Nacionais (SCN).
Entre as principais diferenças em relação à MSAD, de acordo com o BC, estão a inclusão na RNDBF de recursos recebidos extraordinariamente pelas famílias, como o saque emergencial do FGTS em 2019 e o auxílio emergencial em 2020 e 2021.
Os indicadores de endividamento e de comprometimento de renda das famílias passarão a utilizar a medida restrita da RNDBF, que exclui o excedente operacional bruto e as rendas de propriedade, componentes que compreendem rendas de aluguéis, rendas distribuídas das empresas para as famílias e rendas de investimentos. O cálculo do BC antigo levava em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses. Além disso, incorporava os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE.
"As novas séries apresentam níveis inferiores aos das séries anteriores, em função do aumento dos seus novos denominadores, mas suas trajetórias no longo prazo permanecem essencialmente as mesmas – as trajetórias podem apresentar maior disparidade no comprometimento, que utiliza no denominador a média móvel trimestral do indicador de renda, enquanto no endividamento é utilizada a renda acumulada em 12 meses", explicou a autoridade monetária.
Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu 26,2% em setembro, ante 25,8% no mês anterior – era de 30,1% em agosto pela metodologia antiga. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 24,1% no nono mês do ano, ante 23,7% de agosto (27,6% pela conta anterior).