Estadão

Juros abandonam queda e sobem com incertezas fiscais, Bolsonaro e inflação

Os juros futuros fecharam a quarta-feira em leve alta. Até estiveram em baixa pela manhã, com o recuo do dólar, a reação à queda maior do que esperada das vendas do varejo e dados reconfortantes da inflação nos Estados Unidos, mas no começo da tarde as incertezas domésticas dos cenários político e inflacionário voltaram a pesar e as taxas zeraram o movimento. Profissionais da área de renda fixa destacam, em especial, a postura do presidente da República, Jair Bolsonaro, que insiste na defesa do voto impresso, mesmo com a derrota do tema na terça-feira na Câmara, em dia de votação da reforma do Imposto de Renda. O fim da regra de ouro na PEC dos precatórios é outro fator de incômodo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 6,525%, de 6,504% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,104% para 8,13%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 9,08%, de 9,025% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2027, em 9,48%, de 9,433%.

O ajuste de baixa iniciado na terça ainda conseguiu perdurar no período da manhã de quarta, em função da baixa do dólar e das vendas no varejo restrito com retração de 1,7% em junho ante maio, mais acentuada do que a estimativas mais pessimista do levantamento do Projeções Broadcast (-0,9%). O varejo ampliado recuou 2,3%, ante mediana de queda de 1,6%.

Numa segunda leitura, veio a conclusão de que o resultado não deve interferir no plano de voo do Banco Central, até porque os números de alta frequência têm mostrado muita volatilidade. "A PMC muda zero a aposta para o Copom, pois não é a atividade fraca que vai reduzir a inflação de curto prazo", afirmou o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno, citando choques de oferta vindos, por exemplo, das tarifas de energia e preços de combustíveis.

"E o cenário político está complicando, hoje com Bolsonaro, a apoiadores no cercadinho, exacerbando a disputa com o Judiciário", acrescentou Nepomuceno. Mesmo após a derrota do voto impresso na Câmara, o presidente disse "que não vai se confiar nos resultados da apuração".

Nesse contexto, o mercado passou a hesitar à tarde, abandonando o sinal de queda. O andamento das reformas também segue enroscado, com a falta de consenso em torno da proposta de reforma do Imposto de Renda, prevista ainda para quarta. Também repercutiu mal a inclusão na PEC dos precatórios de dispositivo para mexer na regra de ouro e dispensar o governo de pedir ao Congresso uma autorização específica para descumpri-la. A regra impede o endividamento do governo para bancar despesas como salários e benefícios sociais.

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