Os juros futuros terminaram a sexta-feira em baixa firme, influenciados pela queda do dólar e pelo ambiente externo mais ameno, que estimularam uma correção técnica. A agenda esteve esvaziada e a tensão geopolítica não se agravou pelo ataque de Israel ao Irã. Na semana, todas as taxas subiram, mas a curva perdeu inclinação. As curtas avançaram mais que as longas dada a reprecificação de Selic no curto prazo detonada por declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na quarta-feira, 17.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,355%, de 10,425% ontem no ajuste, e a do DI janeiro de 2026, em 10,52%, de 10,73% ontem. A do DI para janeiro de 2027 caía de 11,02% para 10,80%. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 11,22%, de 11,40%.
O alívio no câmbio, que levou o dólar a fechar abaixo dos R$ 5,20, deu maior segurança para o mercado aproveitar um pouco dos prêmios adicionados na curva, na medida em que também o ambiente externo não trouxe preocupações adicionais. O ataque de Israel ao Irã acabou não gerando maiores impactos sobre os ativos, uma vez que aparentemente foram preservadas as instalações nucleares do país persa. Resta saber se haverá alguma resposta mais contundente no fim de semana.
A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, afirma que a curva vinha super pressionada e havia espaço para ajustes. "Ainda que o cenário tenha piorado, houve um certo exagero com a precificação de Selic acima de 10%", disse a economista, para quem o quadro externo teve papel preponderante na dinâmica dos DIs nesta semana. "Mesmo o discurso de Campos Neto teve como pano de fundo o exterior", avalia. Na quarta-feira, ele indicou que, dado o aumento das incertezas aqui e lá fora, não é mais possível garantir o corte de 0,5 ponto da Selic sinalizado no comunicado do Copom de março, o que provocou forte ajuste nas expectativas para a política monetária, consolidando a aposta de redução de 0,25 ponto já na próxima reunião.
Um dia antes, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, havia indicado que os juros americanos devem ficar parados por mais tempo, dada a persistência da inflação em níveis elevados, o que levou o mercado a reforçar as apostas em apenas um corte de juros em 2024.
Internamente, o noticiário fiscal foi destaque, com a reação amplamente negativa do mercado ao Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025. "Já se esperava uma mudança na meta de resultado primário de 2025; mas o governo mudou também a do ano seguinte, postergando para 2028 o compromisso de obter um superávit de 1% do PIB", afirma economista-chefe da Azimut Wealth Management, Gino Olivares, acrescentando que a justificativa do governo foi a exaustão dos ganhos arrecadatórios. "Se os ganhos na arrecadação se exauriram, e o governo não manifesta disposição em reduzir as despesas, qual a garantia de que não haverá afrouxamentos adicionais dos compromissos fiscais?", questiona.
Por isso, a perspectiva de que o governo receba recursos vindos dos dividendos da Petrobras levou as taxas longas a baterem mínimas no fim da manhã. O colunista Lauro Jardim, de O Globo, apurou que há expectativa de que os 100% de dividendos extraordinários referentes ao balanço de 2023 – o que representa um total de R$ 43,9 bilhões – sejam liberados na próxima sexta-feira, na assembleia geral ordinária de acionistas da companhia. Como o governo é o maior acionista da empresa, o caixa da União seria assim reforçado, aliviando o cenário fiscal.