Sinais de uma atividade mais fraca do que o previsto e a chance de acordos na Câmara em torno dos pacotes para diminuir o impacto da crise do novo coronavírus na economia provocaram a queda dos juros futuros nesta terça-feira, 5, pré-Copom. O recuo bem mais forte do que o previsto da produção industrial embasou, inclusive, a apostas de corte mais robusto na taxa amanhã. A divulgação da íntegra do depoimento do ex-ministro Sérgio Moro à Polícia Federal, no entanto, deu fôlego às taxas longas na sessão estendida.
Ao fim da sessão regular, a taxa do contrato do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 cedeu de 2,77% ontem para 2,71% hoje. O janeiro 2022 foi de 3,66% para 3,53%. E o janeiro 2027 caiu de 7,50% para 7,45%. Ao fim do dia, a curva precificava cerca de 60% de chances de redução de 0,50 ponto porcentual pelo Banco Central amanhã e 40% de baixa de 0,75pp, segundo cálculos da Quantitas Asset Management.
Pela manhã, o IBGE informou que a produção industrial brasileira despencou 9,1% em março ante fevereiro, na série com ajuste sazonal. A queda foi bem maior que a mediana das estimativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, negativa em 3,34%. O intervalo todo apontava retração, de 10,20% a 1,80%. A atividade no setor agora recuou em 23 das 26 categorias pesquisas e chegou ao nível de agosto de 2003.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno, pontua que o dado se refere ao mês de março, quando começou-se a endurecer as medidas de isolamento social. O impacto maior, diz, virá a partir de abril.
"O dado da atividade muito ruim sugere que o impacto está sendo maior do que se imaginava, o que pode levar o BC a acelerar o ritmo de corte de juros", comentou. A aposta de Rostagno é de um corte de 50 pontos-base da Selic amanhã, embora ele pondere que não se deve descartar de todo uma atitude mais agressiva da autoridade monetária.
Ao comentar os dados da produção industrial, a consultoria Pantheon Macroeconomics diz estar preparada para "números terríveis da produção industrial brasileira nos próximos meses". "Esperamos uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre, mas os riscos são fortemente inclinados para o lado negativo", afirmam.
Ao falar dos dados recentes da atividade econômica brasileira, o BofA Merrill Lynch estima corte de 0,5 pp amanhã e taxa a 2,75% no final de 2020. "O cenário de recessão econômica amplifica as pressões desinflacionárias que vêm da demanda doméstica deprimida, enquanto os preços do petróleo historicamente baixos se somam a essas pressões para baixo na inflação. A robustez da resposta fiscal ao Covid-19 até agora, junto ao afrouxamento monetário e de liquidez, devem amortecer uma desaceleração mais profunda, mas é improvável que impeçam uma recessão", afirma o texto.
Outro fator que impulsionou a queda nas taxas durante a sessão regular foi a possibilidade de entendimento da pauta da Câmara. A chance de votação do segundo turno hoje da PEC do Orçamento de Guerra e do início da apreciação do socorro a Estados e municípios justificaram o alívio, segundo um operador.
Durante o leilão da sessão regular, contudo, a íntegra do depoimento de Sérgio Moro foi divulgada pela CNN Brasil e, posteriormente, pelo Broadcast/Estadão. O ex-ministro da Justiça confirmou a pressão que sofreu do presidente Jair Bolsonaro para trocar o comando da superintendência do Rio de Janeiro.
Minutos após a abertura da sessão estendida, o juro do DI para janeiro de 2027 estava em 7,50%, devolvendo a baixa da etapa regular.