Os juros não só sustentaram como ampliaram à tarde a queda vista desde a primeira etapa, mesmo com o dólar renovando máximas na jornada vespertina até acima de R$ 5,18. O aumento dos ruídos políticos e os indicadores ruins da segunda-feira também não foram capazes de impedir o alívio de prêmios.
A trajetória descendente foi atribuída ao otimismo com as medidas que vêm sendo adotadas pelo Ministério da Economia e pelo Banco Central – em especial há grande expectativa pela chamada "PEC do BC" na Câmara esta semana – para amortecer o choque da covid-19 na economia; ao noticiário promissor em torno da vacina contra o coronavírus e à confiança de que o número de casos vai desacelerar com a ampliação do período de isolamento mais restritivo em vários países, como anunciado nos Estados Unidos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023, com alívio de 30 pontos, ao cair de 5,663% para 5,36% (mínima). A do DI para janeiro de 2021 estava em 3,395% (piso histórico), de 3,499% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2022 caiu de 4,372% para 4,17% e a do DI para janeiro de 2027, de 7,642% para 7,53%. O volume de contratos negociados, contudo, foi baixo.
Mesmo em meio à piora do câmbio e aos crescentes ruídos políticos – após o presidente Jair Bolsonaro voltar a contrariar no fim de semana as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde -, o mercado se concentrou no que está sendo feito para evitar o estrangulamento do orçamento das famílias e, por parte do Banco Central, para prover liquidez ao sistema financeiro e às empresas. Em especial, há grande otimismo com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que libera o Banco Central a comprar títulos de emissão do Tesouro Nacional, no mercado local ou internacional, e ativos financeiros, públicos ou privados, no âmbito dos mercados financeiro e de capitais, que está sendo chamada de "QE (quantitative easing) tropical". A expectativa é de que a PEC seja votada pela Câmara na quarta-feira.
O trader da Sicredi Asset Cássio Andrade Xavier explica que a inclinação da curva nos últimos dias encareceu demais as dívidas de longo prazo das empresas e a possibilidade de o Banco Central, assim como já fez o Tesouro com as atuações extraordinárias, trocar essa despesa por dívida curta traz grande alivio ao mercado.
"É a grande ferramenta dos BCs no mundo para estabilizar os mercados", disse ele, destacando que o mais urgente agora é resolver problemas de liquidez imediata, tentando normalizar os fluxo de caixa.
Cálculos do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, mostram que a curva precifica -35 pontos-base de corte da taxa básica em maio, ou seja um mercado certo de que a taxa vai cair, mas em dúvida sobre o tamanho da queda: são 60% de possibilidade para uma redução de 0,25 ponto porcentual e 40% de chance de corte de 0,50 ponto.