Após percorrem o dia sem firmar tendência, alternado altas e baixas moderadas, os juros futuros fecharam a sessão regular com leve avanço no trecho curto e estável nos longos, tendo, mais uma vez o exterior como parâmetro central. A inflação ao consumidor nos Estados Unidos acima do esperado elevou as apostas num aperto monetário agressivo pelo Federal Reserve, reforçando os temores de recessão.
O dólar se enfraqueceu ante a maioria das moedas, voltando, no Brasil, a R$ 5,40. As vendas do varejo restrito ficaram abaixo do esperado, mas sem grande efeito nos negócios, enquanto, em Brasília, a tramitação da PEC dos Benefícios, cujo texto-base foi aprovado ontem em primeiro turno pela Câmara, avançou nesta quarta-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,875%, de 13,851% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 passou de 13,702% para 13,77%. O DI para janeiro de 2025 ficou em 13,075%, de 13,04% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 fechou em 12,92%, de 12,91% ontem no ajuste.
Os mercados como um todo giraram em torno da surpresa com o índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) norte-americano em junho, que subiu 1,3% ante maio, acima da mediana estimada de 1,1%. Na comparação anual, saltou 9,1%, maior taxa desde novembro de 1981, ante consenso de 8,8%. O núcleo avançou 0,7% (consenso de 0,5%).
Pelo acompanhamento do CME Group, o quadro de apostas mostrava 75% de chance de um aumento de 100 pontos na reunião de julho. Esta foi a opção do Banco Central do Canadá, que hoje decidiu elevar a taxa de juros de 1,5% a 2,5% ao ano.
Para o banco ING, o Fed terá o ônus de ter de frear a demanda por meio de taxas de juros mais altas. "Mas ao atrasar sua resposta e agora ter que mover a política mais rápido e mais fundo em território restritivo, há claramente o medo de uma recessão. O Fed aceitou que o crescimento mais fraco é o preço a se pagar para controlar a inflação", avaliam os profissionais.
De todo modo, a curva local se mantém bastante elevada, em boa medida pelo cenário para as contas públicas. "Por mais que o exterior possa ser desinflacionário, fica a espada fiscal sobre a nossa cabeça. É difícil ver uma melhora mais consistente da curva", comentou a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira.
Segundo Pereira, o risco fiscal advindo da PEC dos Benefícios já foi absorvido pelo mercado, que hoje ficou aguardando o fim da tramitação na Câmara. No fim da tarde, estava em andamento a votação em segundo turno. A proposta, que contempla aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, zeragem da fila do programa, vale-caminhoneiro, vale gás, entre outras benesses, terá impacto fiscal de R$ 41,25 bilhões que extrapolam o teto de gastos.
Vale destacar que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP-TCU) soou um alerta vermelho relação à proposta que o governo quer aprovar a apenas três meses das eleições. O subprocurador-geral do MP-TCU, Lucas Rocha Furtado, entrou com um pedido de medida cautelar sob a alegação de que "a emenda proposta é flagrantemente inconstitucional" e que pode, inclusive, levar à impugnação de mandato eletivo.