Os juros futuros de curto prazo fecharam entre a estabilidade e viés de alta, enquanto os longos cederam mais de 10 pontos-base nesta sexta-feira, refletindo a melhora da percepção sobre o cenário inflacionário e fiscal, além do apetite ao risco no exterior, que tem atraído fluxo externo para ativos brasileiros.
A queda da produção industrial em abril corroborou o que havia indicado ontem pelo PIB, que o setor, após a fraqueza no primeiro trimestre, continuou sofrendo no segundo, o que ajuda a sustentar as apostas no início do ciclo de desaperto monetário nos próximos meses. A queda do dólar para R$ 4,95 também favoreceu o desenho da curva que, no acumulado da semana, igualmente desinclinou.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,215% (máxima), de 13,192% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,45% para 11,47%. A do DI para janeiro de 2027 recuou de 10,87% para 10,78%, taxa que representa o piso desde o fechamento de 30/12/2021, de 10,57%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa a 11,10%, de 11,21%. Na semana, a ponta curta e a intermediária ficaram de lado. Os DIs longos cederam em torno de 20 pontos.
A busca por risco nesta sexta-feira foi evidenciada pelo forte desempenho das ações, das commodities e da alta nos juros dos Treasuries, reverberando no mercado local. A aprovação do acordo para a suspensão do teto da dívida dos Estados Unidos no Congresso representa um fator a menos de tensão para os ativos, mas ainda faltava o payroll de maio para confirmar se o crescimento das apostas num Federal Reserve mais dovish a partir de agora se sustentaria.
Ainda que a geração de 339 mil postos de trabalho nos Estados Unidos em maio tenha superado largamente o consenso de mercado, de 200 mil vagas, o avanço de 0,3% do salário médio por hora veio dentro do esperado e a taxa de desemprego subiu 3,7%, além dos 3,5% previstos, dando suporte à expectativa de que os juros americanos entrarão agora num período de estabilidade.
Também impulsionou os negócios a notícia de que a China, que vinha mostrando dados econômicos mais fracos, passou a considerar um novo pacote de medidas para impulsionar a atividade, segundo a Bloomberg.
Além do exterior, o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti afirma que a curva respondeu a questões internas, principalmente aos sinais de perda de fôlego do crescimento adiante, já presentes ontem no PIB, cuja expansão no primeiro trimestre ficou concentrada, pelo lado da oferta, no setor agropecuário, enquanto pelo lado da demanda houve fraqueza generalizada. "O PIB já mostrava queda do consumo e um desempenho ruim da indústria. E a PIM hoje sinalizou para isso também no começo do segundo trimestre", disse. A produção industrial caiu 0,6% na margem em abril, mais do que apontava a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (-0,3%).
Tal quadro respalda a ideia de que a política de juros contracionista do Banco Central já esfriou a atividade, justificando a sinalização da curva de que a Selic deve começar a ser reduzida no início do segundo semestre. Beyruti afirma que as taxas curtas estão mais resistentes a fechar porque já haviam cedido muito, com tal percepção tendo sido bem precificada. Com isso, o mercado foi atrás do prêmio da ponta longa, confiante também no avanço da tramitação do texto do arcabouço fiscal no Senado.