Juros de curto e médio prazo fecham em alta; longos fecham de lado

Os juros futuros terminaram a quinta-feira em leve alta nos contratos de curto e médio prazos e de lado na ponta longa. As taxas estiveram a maior parte do dia pressionadas pelas incertezas fiscais e políticas e por mais um leilão grande de títulos prefixados do Tesouro, o que ofuscou a influência positiva do exterior. Começaram o dia em alta, viraram e passaram a cair no meio da manhã, mas retomaram a trajetória ascendente após o anúncio da oferta de 22,5 milhões de LTN e de 450 mil NTN-F do Tesouro. A partir do meio da tarde, passado o leilão e com o dólar renovando mínimas, desaceleraram o avanço. A despeito do vaivém, a curva segue com inclinação expressiva em função da piora na percepção sobre os fundamentos e com precificação de alta para a Selic nos próximos meses.

Entre os contratos mais líquidos, o de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021, que melhor capta as apostas para a Selic este ano, fechou com taxa de 2,00%, ante 1,981% no ajuste anterior. A taxa deste DI não encerrava em 2% desde 23 de julho (2,03%). O DI para janeiro de 2022 terminou com taxa de 2,87%, de 2,833% na quarta-feira, e o DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 4,11%, de 4,074%. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 5,964% para 5,98% e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,96%, de 6,973%.

A indicação do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, de que haverá adoção de meta de inflação por uma taxa média de 2% por um determinado período, tinha tudo para aliviar a curva de juros, uma vez que a leitura é que a taxa dos fed funds ficará perto de zero por um longo intervalo. Porém, o quadro fiscal doméstico, diante da espera pela definição de como ficará o Renda Brasil, blindou o contágio do bom humor externo. A equipe econômica tem até sexta-feira para reformular o projeto sem extinguir os programas existentes conforme determinação do presidente Jair Bolsonaro, numa equação difícil para manter intocado o teto dos gastos. E tem até segunda-feira, 31, para enviar o projeto de Orçamento 2021 ao Congresso.

As taxas chegaram a cair no meio da manhã, logo após as declarações de Powell, mas o movimento logo se inverteu, quando o Tesouro anunciou os lotes para o leilão. "Quando saiu o edital, ninguém mais quis vender. A oferta veio muito forte e pressionou principalmente os curtos e intermediários", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.

Ele lembra que, na semana passada, a instituição havia ofertado apenas 8,5 milhões de LTN e 100 mil NTN-F em função do estresse do mercado e a expectativa era de que mantivesse a estratégia nesta semana. Mas, contrariando as previsões, os lotes vieram robustos, tendo sido colocados integralmente e com parte das taxas acima do consenso. Depois do leilão, com o desmonte das posições de hedge, as taxas diminuíram a alta, com ajuda também do câmbio, na medida em que o dólar acelerou a queda.

Por mais estranho que um aperto da Selic neste momento de inflação baixa e atividade fraca possa parecer, os players nesta quinta colocaram mais ficha nesta aposta, justamente pela desconfiança fiscal. A curva projeta um total de 26 pontos-base de alta para a Selic até o fim do ano, contra 17 pontos na sessão de quarta-feira. Para o Copom de setembro, a probabilidade de avanço de 0,25 ponto porcentual na atual taxa de 2% subiu de 15% para 20%; para outubro, de 15% para algo entre 30% e 35%; e para dezembro, foi de 35% na quarta para 50% nesta quinta. Os números são do Haitong Banco de Investimento.

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