Os juros futuros fecharam entre leve baixa e leve alta nesta quinta-feira, 18, beneficiados pela percepção de redução do risco fiscal do País após o relator do novo arcabouço fiscal na Câmara, Cláudio Cajado (PP-BA), defender o projeto de lei complementar que cria a regra, após a aprovação da urgência na tramitação da medida na véspera. O alívio doméstico acabou prevalecendo mesmo em um dia de altas do dólar e dos rendimentos dos Treasuries.
Na comparação com o ajuste anterior, o DI para janeiro de 2024 recuou de 13,326% para 13,320%, acompanhado pelos contratos para janeiro de 2025 (11,761% para 11,705%) e 2027 (11,310% para 11,290%). O DI para janeiro de 2029 subiu de 11,607% para 11,620%. O pregão resultou em redução da inclinação negativa da curva, com aumento do spread entre os DIs para janeiro de 2025 e janeiro de 2029 de -8,5 para -9 pontos-base.
Os juros longos e intermediários chegaram a operar com viés de alta na etapa da manhã e no início da tarde, quando as altas do dólar e dos rendimentos dos Treasuries prevaleceram sobre a aprovação da urgência na tramitação do arcabouço fiscal. Mas, durante a tarde, afirmações do relator do texto na Câmara, Cláudio Cajado (PP-BA), diminuíram a percepção de risco fiscal e levaram as taxas domésticas para o negativo.
Em meados da etapa vespertina, Cajado divulgou nota na qual explicou que a decisão de permitir um aumento real de 2,5% dos gastos em 2024 – no limite superior do intervalo permitido pela regra – foi tomada para limitar a perda decorrente da desoneração de combustíveis de 2022. Segundo o parlamentar, a receita do governo terá alta real de 2,9% este ano, mas poderia subir 3,6% se não fosse o corte de impostos.
Uma expansão de 2,5% da despesa equivale a 70% de um crescimento de 3,6% na receita, em linha com os limites estabelecidos no arcabouço. Segundo o relator, isso representa um espaço de alta de R$ 40 bilhões dos gastos federais no ano que vem.
"Esse é um sinal de que as despesas obrigatórias não subirão tanto e que, se o governo quiser aumentar bastante o gasto no ano que vem, vai ter de eliminar a desoneração dos combustíveis", explica o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. O governo retomou apenas parcialmente a cobrança de impostos federais sobre combustíveis no fim de fevereiro.
Na penúltima hora da sessão, declarações de Cajado levaram a uma nova rodada de alívio das taxas domésticas. A jornalistas, o deputado disse não prever mudanças no arcabouço e classificou como "absolutamente fantasiosa" a estimativa de que a regra pode abrir espaço para um aumento de despesas de R$ 80 bilhões nos próximos dois anos, conforme calculado por instituições financeiras ouvidas pelo <i>Estadão/Broadcast</i>.
Para a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira, a queda das taxas domésticas no pregão desta quinta-feira reflete a continuidade do otimismo no mercado de juros que favoreceu o rali dos DIs nas últimas semanas. A analista lembra que as projeções do mercado ainda indicam uma trajetória de resultados primários incompatível com as metas, além de aumento contínuo da relação dívida/PIB nos próximos anos.
"O relator diz que o aumento de despesa não vai bater R$ 80 bilhões, e sim metade, mas isso é uma projeção, e a projeção aceita qualquer número", diz Pereira. "Tem um componente de otimismo interno muito difícil de explicar no mercado de juros. É como quando o Banco Central falou que não tem relação mecânica entre o arcabouço e uma queda da Selic, e o mercado continuou embutindo quedas de juros."
No fim do pregão, o otimismo interno prevaleceu sobre a alta de 0,68% do dólar em relação ao real, a R$ 4,9680, e às altas entre 7,7 e 10,2 pontos-base nos rendimentos das T-Notes de dois, cinco e dez anos. Ainda nesta quinta-feira, o Tesouro vendeu a oferta integral de 1,750 milhão de NTN-Fs e de 10 milhões de LTNs com vencimentos entre 2023 e 2033.