O mercado de juros devolveu nesta quinta, 15, praticamente toda a queda acumulada desde a última quinta-feira, com as taxas percorrendo a sessão em alta. O dia já começou mal com a forte aversão ao risco no exterior e a pressão cresceu após o anúncio da oferta do Tesouro para o leilão no meio da manhã, com lote grande na LTN mais longa e oferta turbinada em LFT após a mudança no cronograma anunciada pela instituição na sexta-feira. Tal combinação acabou por puxar uma realização de lucros, uma vez que a falta de definição no cenário fiscal permanece como pano de fundo negativo para os ativos de renda fixa.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 4,555% ontem para 4,69%, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 7,53%, de 7,364% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2022 subiu de 3,194% para 3,31%. O DI para janeiro de 2024 terminou com taxa de 5,83%, de 5,67%.
Diferentemente do padrão, as taxas continuaram avançando mesmo passado o leilão do Tesouro, que, em termos de risco (DV01) nos papéis prefixados, cerca de R$ 4 milhões, foi maior do que o da semana passada, cerca de R$ 3,5 milhões, embora as quantidades tenham sido menores. A oferta de LTN foi de 28,5 milhões, com venda de 28,090 milhões, ante 31,5 milhões na operação anterior, e a de NTN-F caiu de 1,5 milhão para 300 mil, com venda de 280.850. Num ambiente permeado pelo mau humor nos mercados internacionais, o Tesouro continuou pagando prêmios elevados, mas as taxas ao menos saíram pouco abaixo do consenso.
O leilão de LFT foi considerado frustrante. O Tesouro catapultou a oferta de até 100 mil na semana passada para até 1 milhão hoje, talvez apostando numa maior demanda após ter encurtado ainda mais a LTN curta, ofertando 1/3/2022 em vez da 1/3/2023. Na prática, a venda foi de pouco mais de 380 mil papéis.
Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, diz que o mercado de juros "está difícil". "Apesar de ter cedido bem nos últimos dias, há pouco apetite para ficar vendido em pré", afirmou. Na sua avaliação, alguns players que esperavam alta da Selic só em 2022 podem já estar antecipando em suas posições o risco de aperto no ano que vem, quando a atividade já deve estar em melhor forma, ou mesmo pelo aumento do risco fiscal.
Na avaliação da XP Investimentos, caso a perspectiva fiscal se deteriore significativamente, o Copom pode optar por a elevar a Selic mais cedo. A projeção é de que, dada a sinalização do Copom e a hipótese de manutenção do teto de gastos para 2021, a taxa permanecerá em 2,00% até o segundo semestre de 2021 e subirá, gradualmente, até 3,00% no final do ano. A empresa pondera que, na hipótese de alguma deterioração fiscal que gere uma depreciação 10% no câmbio frente ao seu cenário base, a "nossa estimativa de regra de Taylor aponta para uma Selic em 3,50% no final de 2021, com o Copom iniciando o ciclo de alta já no primeiro semestre".