Os juros futuros fecharam o dia em baixa, mas em ritmo mais contido à tarde, em meio ao aumento da cautela nos mercados internacionais, que também acelerou a alta do dólar, além do início da movimentação em torno do leilão do Tesouro amanhã, para completarem a quarta sessão consecutiva em baixa. A ação coordenada do Banco Central e Tesouro iniciada no fim da semana passada ainda continua produzindo efeitos positivos na curva, dada a percepção de que as autoridades estão se mobilizando para aliviar a pressão no mercado de renda fixa. Embora o cenário fiscal se mantenha desafiador, a trégua dos ruídos políticos também contribuiu para acalmar os investidores.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou em 4,55%, voltando aos níveis do fechamento do mês passado, de 4,605% ontem no ajuste. O DI mais líquido, para janeiro de 2022, encerrou com taxa de 3,19%, de 3,234% ontem. A do DI para janeiro de 2025 terminou na máxima de 6,42% de 6,43%4 ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 7,384% para 7,36%.
As questões técnicas pautadas pelas mudanças nas operações compromissadas e nos prazos dos títulos a serem ofertados pelo Tesouro prevaleceram mais um dia, na medida em que também os representantes das autarquias têm comentado as medidas e se disposto a esclarecer alguns pontos.
Ontem, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em live da Genial Investimentos, negou demora da instituição em atuar diante da elevação dos prêmios de risco em papéis mais longos ou ter sido lenta ao corrigir distorções entre a curva das LFTs – que tem maior inércia – e a curva de outros papéis. "A abertura da curva foi muito rápida, mas acompanhamos de perto e não faltou diligência nem comunicação da parte do Tesouro", disse. Nesta quarta-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, negou que com as medidas da sexta-feira o BC esteja forçando os agentes a comprarem títulos. "Tudo que a gente fez foi pensando em reduzir os prazos de execução da política monetária de forma a não concorrer com a atuação do Tesouro Nacional, que por questões arbitrais tem sido mais curta", afirmou, em videoconferência da Renascença DTVM & Panamby Capital.
Para o mercado, os discursos estão corretos e as medidas, acertadas, dentro de um escopo restrito de atuação, mas, segundo um gestor, "todos sabemos" que a situação é mais grave do que o governo pode admitir publicamente.
De todo modo, ao menos o Tesouro parece estar conseguindo ganhar algum tempo com tais sinalizações e os efeitos no mercado de títulos, sobretudo LFT, já são perceptíveis, com melhora de demanda e desaceleração dos deságios no secundário. Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, afirma que a atuação conjunta deve diminuir a pressão de curto prazo, mas joga o problema mais à frente. "O BC e o Tesouro estão fazendo o que podem e o mercado está dando algum crédito de que vai se conseguir administrar o curto prazo. Mas o cenário tem apontado sempre para um dia pior do que o outro", afirmou, alertando para o risco elevado de se encurtar demais a dívida.