A trajetória dos juros foi preponderantemente de queda durante a sexta-feira, interrompida por breve momento de estabilidade durante a manhã desta sexta, 29. O principal vetor para o fechamento da curva foi a leitura das declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em participações em eventos virtuais ontem e hoje, consideradas dovish e que colocaram a aposta de corte de 0,75 ponto da Selic no Copom de junho na curva como amplamente majoritária, com 70% de probabilidade. As taxas de curto prazo renovaram mínimas históricas de fechamento, em dia de PIB fraco, mas dentro do previsto. O quadro político hoje sem novidades também ajudou no processo de alívio de prêmios.
A temida entrevista coletiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à tarde pegou o mercado de juros na reta final da sessão regular, quando as taxas já estavam em queda firme. Na etapa estendida, porém, não houve reação expressiva, ainda que o dólar tenha ampliado as perdas ante o real após a fala de Trump.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou com novo piso histórico de 2,29% (2,356% ontem) e o DI para janeiro de 2022, também na mínima histórica, fechou em 3,13%, de 3,191% ontem. A do DI para janeiro de 2025 recuou de 6,023% para 5,96% e a do DI para janeiro de 2027, de 6,973% para 6,90% (mínima do dia).
Cassio Andrade Xavier, trader de renda fixa da Sicredi Asset, afirma que a sinalização de Campos Neto é de que o BC vai testar novas mínimas da Selic, reduzindo a taxa em mais 0,75 ponto, e avaliando a evolução do cenário para mais uma eventual queda no Copom de agosto, talvez em 0,25 ponto. "Na sua explanação, ele deu a noção do nível das discussões dentro do Copom, em detalhes, e o mercado gosta deste tipo de abordagem", disse.
Segundo Xavier, a curva precificava redução de 65 pontos-base da Selic para junho, ou 70% de chance de queda de 0,75 ponto contra 30% de chance de corte de 0,5 ponto. Ainda, há -12 pontos-base para a reunião de agosto, com o mercado já no meio do caminho entre manutenção e queda de 0,25 ponto.
Campos Neto disse nesta quinta, 28, que a política monetária no Brasil "não está exaurida", que seus instrumentos ainda não se esgotaram e que usar outras ferramentas durante a crise, antes do esgotamento da política monetária, pode causar prejuízos.
O mercado digeriu as declarações em meio aos números fracos do PIB do primeiro trimestre, que mostrou queda de 1,5% ante o trimestre anterior, exatamente como mostrava a mediana das estimativas. O dado em si não mexeu com as taxas até porque se sabe que o pior está por vir no segundo trimestre, quando a covid-19 provocou os maiores estragos na economia.