Os juros futuros fecharam o dia em queda com a sinalização do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) e a oferta menor de títulos prefixados no leilão do Tesouro. O alívio se deu mesmo com o clima de aversão ao risco no exterior, mas com o mercado por aqui se apegando à indicação do Federal Reserve na quarta-feira de que os juros americanos devem seguir em níveis baixos até 2023. Após o Copom ter endossado o forward guidance de que não pretende reduzir o grau de estímulo monetário e não ter descartado a possibilidade de voltar a cortar a Selic após mantê-la na quarta em 2%, as apostas para aperto monetário nas próximas reuniões perderam um pouco de força na precificação da curva.
Boa parte das principais taxas terminaram nas mínimas, na medida em que o dólar ampliava perdas de maneira global. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou na mínima de 6,02% (6,124% na quarta) e a do DI para janeiro de 2027 também terminou na mínima, de 7,01%, de 7,123% na quarta. Nos mais curtos, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 2,82%, de 2,893% no ajuste anterior, e o DI para janeiro de 2023 fechou com taxa de 4,14%, de 4,254%.
De acordo com o Haitong Banco de Investimento, para o Copom de outubro, a curva projetava no fim da sessão 23% de chance de um aumento de 0,25 ponto porcentual na Selic, de 26% na quarta. Para dezembro, a probabilidade de alta de 0,25 ponto caiu de 48% para 35%. Até o fim do ano, a curva passou a precificar um total de 15 pontos-base de elevação, ante 19 pontos na quarta antes do Copom.
O mercado trabalhava nos últimos dias com a ideia de um comunicado mais conservador pelo BC, em meio à disparada dos preços dos alimentos e dos IGPS, mas os diretores relativizaram a pressão, classificando como temporária. Mesmo diante da piora do risco fiscal e da pouca evolução da agenda de reformas, o Copom sustentou no texto que "eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional", evitando assinalar claramente que o ciclo acabou.
Para Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, a manutenção da menção a uma reduzida chance de corte foi apenas "pró-forma". "O BC colocou por colocar. O mercado comprou sim a ideia da estabilidade e agora tenta precificar por quanto tempo a Selic vai ser mantida e qual vai ser o tamanho da paciência do BC com o fiscal", disse.
Outro fator de alívio foi que o Tesouro nesta quinta "pegou mais leve" com as ofertas de prefixados, de 43 milhões de LTN e 1,5 milhão de NTN-F na semana passada, para 19,5 milhões e 650 mil, respectivamente, nesta quinta.
O mercado desde terça-feira vinha se preparando para um volume maior e a leitura é de menor urgência para emitir, principalmente a qualquer preço. "Parece que o Tesouro ficou, de certa maneira, incomodado com a pressão que vinha colocando na curva e resolveu tirar a mão. De qualquer forma, acabou dando um olé no mercado, que esperava mais uma oferta considerável", afirmou o operador de renda fixa da Renascença DTVM, Luis Felipe Laudisio.