Os juros terminaram a última sessão do mês entre a estabilidade nos contratos de curto e médio prazos e viés de baixa nos vencimentos longos. Assim, houve perda adicional de inclinação na curva, movimento que foi a tônica de julho, mesmo com o crescimento das apostas de mais corte da Selic nas próximas reuniões do Copom e com o quadro fiscal negativo.
A evolução da agenda de reformas e o clima político mais ameno conseguiram ancorar as taxas ao longo do período, a despeito ainda do cenário externo de cautela com o avanço da covid-19 e seus impactos nas economias e riscos geopolíticos nas relações entre a China e Estados Unidos.
E, nesta sexta-feira, 31, justamente graças à percepção melhor da situação doméstica, o mercado de juros se descolou do movimento de risk off que pautou os demais ativos e que penalizou moedas de economias emergentes incluindo o real.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou na mínima de 1,905% (mínima), de 1,908% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 passou de 2,631% para 2,65%. A do DI para janeiro de 2023 fechou estável em 3,65% e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 6,113% para 6,07%.
Com o forte recuo das taxas ontem, principalmente na ponta longa, a expectativa era de que pudesse haver alguma abertura hoje diante do mau humor externo. O estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, afirma que no geral, o investidor está preocupado com o ritmo da retomada das economias após a pandamia, na medida em que o consumidor deverá seguir com cautela nos gastos. "Mas os juros têm chamado a atenção. Apesar da questão fiscal, a curva tem desinclinado com o mercado acreditando que não haverá descontrole fiscal. Se essa percepção estiver correta, devemos ver ajustes também nos demais ativos", afirmou.
Os sinais de pressão para mudança da regra do teto dos gastos, por ora, não chegam a assustar. "Acho difícil haver maioria para derrubar", disse Caramaschi, para quem, na medida em que as discussões sobre as reformas, tanto a tributária, quanto em temas como o marco do gás e independência do Banco Central avançarem, as chances de alteração se reduzem.
As taxas curtas pouco oscilaram, com o mercado já à espera do corte de 0,25 ponto porcentual da Selic na próxima semana, sendo que parte dos investidores acredita também numa nova flexibilização em setembro, aposta que pode ou não crescer a depender da sinalização do comunicado da quarta-feira. Para os economistas da MCM Consultores, é improvável que o Copom indique ser considerável a chance de um novo corte na reunião seguinte. "Em linha com o que aventava em junho, o presidente do Banco Central tem se mostrado positivamente surpreso com a velocidade de recuperação da economia e otimista com as perspectivas para os próximos meses", disseram, em relatório.