A curva de juros futuros achatou-se nesta quarta-feira, 10, em sessão marcada por quedas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) médios e, mais acentuadamente, longos, diante da desaceleração da inflação anual nos Estados Unidos. O índice de preços ao consumidor (CPI) menor que o esperado no acumulado de 12 meses reforçou a avaliação de que o Federal Reserve (Fed) encerrou o ciclo de aperto monetário e pode começar a cortar juros já em setembro, o que derrubou os rendimentos dos Treasuries e o dólar e favoreceu o rali das taxas domésticas.
Na comparação com o ajuste de terça-feira, 9, a maior parte dos contratos de juros futuros fechou em baixa, com quedas nos vencimentos de janeiro de 2025 (11,763% para 11,685%), 2027 (11,608% para 11,465%) e 2029 (12,019% para 11,850%). O spread entre os DIs para janeiro de 2025 e janeiro de 2029 caiu de 25,6 para 16,5 pontos-base, o menor desde a última sexta-feira (14,4 pontos). Em contrapartida, o contrato para janeiro de 2024 avançou de 13,246% para 13,265%.
O recuo dos Treasuries – de 8 a 11 pontos-base nos vencimentos de dois, cinco e dez anos até o fechamento dos DIs – balizou a queda das taxas domésticas ao longo da sessão, enquanto agentes do mercado observavam os sinais positivos da inflação americana na passagem de março para abril, tanto no CPI cheio (5,0% para 4,9%), quanto no núcleo do índice (5,6% para 5,5%). As medianas da pesquisa Projeções Broadcast indicavam taxas de 5,0% e 5,5% para as leituras, respectivamente.
Os resultados fortaleceram no mercado a avaliação de que o Fed não só encerrou o de aperto monetário nos Estados Unidos na semana passada como pode iniciar um ciclo de afrouxamento em breve. Na comparação com esta terça-feira, o monitoramento do CME Group mostra aumento na chance de manutenção dos juros americanos na faixa de 5,0% a 5,25% em junho (78,77% para 99,63%), enquanto a aposta em um corte da taxa dos Fed Funds em setembro tornou-se majoritária, com probabilidade de 80,14%.
"Sem dúvida, grande parte do rali de juros do mercado doméstico é por causa desse otimismo com a queda de juros lá fora", diz a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. "O mercado ficou muito otimista vendo uma desaceleração da inflação dos Estados Unidos, o que acabou fazendo não só a curva americana fechar, mas ajudou a nossa curva a fechar e levou a essa valorização de quase 1% do real."
Na última hora de negócios, os DIs chegaram a tocar as mínimas da sessão durante entrevista do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, à BandNews TV. O indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central sancionou as afrouxamento monetário embutidas na curva de juros, mas se recusou a fazer projeções sobre a taxa Selic, alvo de críticas do governo. "Já não fazia projeção como secretário-executivo, e muito menos como indicado", afirmou.
O mercado observou ainda a queda das commodities no exterior, em especial a baixa do petróleo, que tem potencial desinflacionário. A matéria-prima foi enfraquecida diante de incertezas sobre a demanda, após aumento inesperado dos estoques nos Estados Unidos e por temores de recessão na maior economia do mundo. Houve baixa de 1,33% do barril do Brent, para US$ 76,41. O contrato é a referência de preços para a Petrobras.