Após uma manhã sem definir tendência clara, os juros futuros de longo prazo se firmaram em queda à tarde, mais precisamente na última hora da sessão regular, em movimento alinhado à redução da aversão ao risco no exterior, que também trouxe o dólar abaixo dos R$ 5,25. A ponta curta, que vinha recuando nos últimos dias com o aumento das apostas de queda da Selic, hoje experimentou alguma realização e fechou de lado, assim como os vértices intermediários rondaram os ajustes praticamente o dia todo. De maneira geral, os investidores operaram com um olho no exterior e outro em Brasília, na expectativa pela sessão do Senado que vai analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento de Guerra, que, entre outros pontos, permitirá ao Banco Central comprar e vender títulos públicos e privados no mercado secundário.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou em 3,045%, estável ante o ajuste de ontem (3,042%) e a do DI para janeiro de 2022 fechou em 3,70%, mesmo nível do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 7,12%, de 7,252%.
A sessão do Senado para avaliar a PEC está em andamento e os parlamentares querem votar o texto ainda hoje em dois turnos. O mercado considera que a entrada do BC pode dar grande alívio aos prêmios sobretudo com uma atuação mais firme com títulos longos, mesmo tendo o relatório do senador Antonio Anastasia (PSD-MG) reduzido o poder de fogo da autoridade monetária. "A economia do Brasil precisa desesperadamente de estímulo e a pressão está no Congresso para permitir que o banco central compre títulos corporativos", diz o analista de mercado financeiro da OANDA, Edward Moya.
Mais uma vez, a confiança de que a proposta será aprovada para que o BC atue o quanto antes acabou se sobrepondo aos alertas fiscais pós-aprovação do plano de socorro aos Estados na Câmara, que continuaram chegando hoje. O pacote foi considerado pela equipe econômica como um cheque em branco para o gasto dos governos regionais. Pela manhã, o Tesouro alertou que pode ter dificuldade para emitir dívida com o objetivo de financiar o projeto que recompõe perdas de ICMS e ISS para os entes, sugerindo que a União pode entrar em grave crise de endividamento, caso a proposta também seja aprovada pelo Senado.
Outros profissionais, porém, acreditam que o mercado está minimizando o risco fiscal. Para o analista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii, os ajustes que estão sendo realizados colocam em risco a agenda de reformas nos próximos anos, ao mesmo tempo em que cresceu a preocupação de que não ficarão limitados a 2020. "O mercado, não só de juros como a Bolsa também, parece anestesiado, achando que o pior já passou. Vejo o mercado desconectado com a realidade, descolados do fundamento", disse.