Estadão

Juros: Mercado se frustra com discurso de Haddad e taxas sobem –

Os juros futuros encerraram a sexta-feira em alta, reagindo ao discurso do ex-ministro Fernando Haddad, apontado como favorito para assumir o ministério da Fazenda na gestão Lula, em almoço na Febraban. As declarações acabaram frustrando o mercado, que esperava uma postura mais contundente em relação à questão fiscal, e também porque não trouxeram novidades sobre a PEC da Transição. Na semana, todas as taxas avançaram, com intensidade maior no miolo da curva, trecho sensível tanto às apostas de Selic no médio prazo quanto à percepção da política fiscal.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a sessão regular em 14,48% e a estendida em 14,44%, de 14,312% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,64% ontem para 13,90% na etapa regular e 13,87% na estendida. O DI para janeiro de 2027 avançou a 13,60% na regular e a 13,57% na estendida, de 13,40% ontem. Na semana, abriram, respectivamente, 11 pontos-base, 16 pontos e 11 pontos e, assim como na sexta-feira da semana passada, seguem nas máximas desde 2016.

A participação de Haddad no almoço da entidade era considerada um "teste" para a cadeira de ministro ante uma plateia de banqueiros. Antes de Haddad, houve apresentação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sem novidades em relação ao que vinha afirmando durante participações em eventos na semana.

No início do discurso de Haddad, as taxas estavam em leve baixa, mas foram piorando gradativamente na medida em que o mercado não percebia um posicionamento mais firme em relação a demandas como controle de gastos nem a fontes de receitas para financiar os programas sociais. No geral, a fala foi considerada protocolar e superficial, frustrando a expectativa de uma linha mais ortodoxa, por sua vez, alimentada pela ideia de que, se confirmado ministro da Fazenda, Haddad faria dobradinha com Pérsio Arida, de perfil mais ortodoxo, como secretário-executivo ou ministro do Planejamento.

"Não teve nada de concreto. Fez alguns apontamentos sobre reforma tributária e foi protocolar sobre a PEC. O mercado parece não ter reagido exatamente a alguma fala, mas a expectativa era de que poderia já estar se posicionando como alguém que vai assumir um cargo como a Fazenda", disse a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

Do mesmo modo, banqueiros presentes ao almoço sentiram falta de direção mais concreta dos planos de ação do futuro governo, incluindo para a política fiscal. "Sem meta, sem planos, sem nomes. Nada de concreto", resumiu o presidente de um banco.

Sobre a PEC, Haddad disse que a equipe de transição do governo vai avaliar os impactos sobre a economia e o social para chegar a uma solução. "Vamos analisar as demandas da sociedade, analisar também o impacto disso do ponto de vista de juros futuros, de trajetória de dívida e de atendimento da população para chegar a um denominador comum", disse. O ex-ministro defendeu ainda uma reconfiguração do Orçamento de modo a dar mais consistência e transparência aos gastos e eficiência aos programas. Disse ainda que a gestão do Orçamento tem de ter a participação do Congresso.

Para a próxima semana, a grande expectativa é do desenho final da PEC a ser apresentada ao Congresso até terça-feira (29), com Lula já em Brasília para assumir a frente das negociações. Os parlamentares parecem pouco dispostos a sancionar os R$ 175 bilhões em gastos extrateto propostos pela equipe de transição, tampouco a validade da medida por quatro anos.

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