Estadão

Juros: na 4ª queda seguida, taxas caem com Treasuries e apostas na Selic

Os juros futuros fecharam a sessão em queda firme, acompanhando o recuo dos yields dos Treasuries e embalados pelo o otimismo sobre o arcabouço fiscal que deve ser apresentado nos próximos dias e que, segundo a ministra do Planejamento, Simone Tebet, "vai agradar a todos, inclusive ao mercado". Em outra frente, cresceram também as expectativas de que os nomes para ocupar as diretorias de Política Monetária e Fiscalização do Banco Central, que já teriam sido encaminhados ao Planalto para análise do presidente Lula, serão de perfil técnico. Como resultado do rali, cresceram as apostas de queda da Selic em maio e também de orçamento do total de cortes do ciclo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,04%, de 13,08% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,40% para 12,23%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,56%, de 12,79%, e a do DI para janeiro de 2029 fechou em 12,95%, de 13,24%.

A quinta-feira marcou a quarta sessão seguida de queda das taxas, ainda refletindo a tentativa do mercado de precificar o que deve ser o novo arcabouço fiscal esperado para antes da decisão do Copom e que, no raciocínio dos agentes, pode abrir caminho para uma flexibilização na política monetária. "A Fazenda está trabalhando para enviar o arcabouço o mais rápido possível e, assim, pressionar o BC por alguma sinalização sobre corte de juros. O mercado antecipa os fatos", disse a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

Para ela, contudo, ainda é cedo para considerar a queda das taxas como tendência. "Ainda mais que amanhã temos IPCA e relatório do mercado de trabalho nos EUA. Esse movimento pode mudar no encerramento da semana", complementou. Para o IPCA de fevereiro, a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast é de 0,78% e para o payroll, de criação de 220 mil vagas no mês passado.

Tebet se reuniu nesta quinta com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir o novo mecanismo fiscal que, segundo ela "vai agradar a todos, inclusive ao mercado" porque atende tanto o lado da preocupação em zerar o déficit fiscal e estabilizar a relação dívida/PIB, quanto garantir os investimentos necessários para o País voltar a crescer.

Na leitura do economista-chefe da Warren Rena, Felipe Salto, as declarações "corroboram cenário de boas regras fiscais". "As indicações de que a sustentabilidade da dívida e a diminuição do déficit estarão contempladas são extremamente positivas", comentou.

Na curva a termo, a precificação ainda aponta maio como o mês de início do ciclo de redução da Selic, mas as apostas de queda de 25 pontos-base na atual taxa de 13,75%, que ontem eram de 35%, hoje avançaram para 40%, enquanto as de manutenção caíram de 65% para 60%. O orçamento total de cortes, ontem de 210 pontos, hoje cresceu para 250 pontos. Os números são da BlueLine Asset.

A percepção de que o Copom deve antecipar o timing do afrouxamento dos juros se dá não somente mediante a entrega do novo marco fiscal, mas também pelos riscos percebidos no mercado de crédito, por sua vez penalizado pelo elevado patamar da taxa básica. De todo modo, ainda que o novo marco fiscal seja apresentado até a reunião de 22 de março, para este mês o consenso é de Selic estável, uma vez que as expectativas de inflação estão desancoradas antes as metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e dada a leitura de que os diretores devem, primeiramente emitir alguma sinalização do que poderá ser feito mais à frente antes de uma ação efetiva. "A curiosidade é pelo comunicado. Qualquer troca de vírgula pode mexer com os ativos", disse Abdelmalack.

Outro assunto que está no radar do mercado são as trocas nas diretorias de Política Monetária e de Fiscalização do Banco Central, com os mandatos de Bruno Serra e Paulo Souza tendo já expirado no fim do mês passado. No meio da tarde, circulou nas mesas de operação informação da Arko Advice de que os novos ocupantes "serão bem recebidos pelo mercado". Os nomes já teriam sido encaminhados ao Planalto para a avaliação de Lula, "mas tiveram o aval tanto de Haddad quanto de Roberto Campos Neto".

Pela manhã, o recuo das taxas era mais discreto diante do grande volume de prefixados ofertado pelo Tesouro no leilão, mas que teve boa demanda, especialmente nas LTN, cujo lote de 18 milhões foi vendido integralmente. A oferta de 1,250 milhão NTN-F foi parcialmente colocada (1,070 milhão).

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